
A operação apura fraudes em contratos públicos de mais de R$ 100 milhões firmados pela universidade. Foto: Reprodução
Última modificação em 30 de abril de 2025 às 11:18
No início deste mês, a Universidade Estadual de Roraima (UERR) voltou a ser alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos envolvendo contratos milionários.
A ação envolve o ex-reitor e o atual reitor da instituição. Em entrevista concedida ao Papo M3 Realidades, o vice-reitor da UERR, Edson Damas, comentou a gravidade do caso e destacou a responsabilidade da universidade perante a sociedade.
Segundo Damas, que atuou por três décadas no Ministério Público, a situação é, de certa forma, irônica.
“É o destino, né? Felizmente ou infelizmente. Trabalhei 30 anos combatendo improbidade, irregularidades, e agora, já aposentado, entro numa instituição que está passando por esse processo. São colegas, são amigos. Mas há um processo que precisa dar satisfação para a sociedade”, afirmou.
A operação é uma continuidade de investigações iniciadas em 2023, que apuram fraudes em contratos públicos de mais de R$ 100 milhões firmados pela universidade. Segundo a Polícia Federal, há suspeitas de desvios milionários e cumplicidade entre servidores para fraudar licitações. A nova fase da investigação trouxe à tona evidências que ampliam o alcance das denúncias, inclusive envolvendo o atual reitor.
Para Damas, a universidade deve ser um espaço de produção de conhecimento e prestação de serviços à sociedade, não de escândalos. “A universidade tem que aparecer para a sociedade com boas notícias, com ensino, extensão, promovendo cursos, chamando a comunidade para dentro. Não é legal ver sua universidade nas páginas policiais”, lamentou.
Ele reiterou que a maior parte da comunidade acadêmica é composta por profissionais íntegros. “Posso atestar que a grande maioria da universidade é composta por pessoas honestas, que querem fazer a coisa certa. Isso também nos causa indignação.”
O vice-reitor explicou ainda os desdobramentos possíveis do caso, que tramita simultaneamente em três esferas: criminal, civil e administrativa. “Se há desvio, existem instâncias para apurar: a criminal, com a polícia, promotor e juiz; a civil, que trata da reparação ao erário; e a administrativa, que é interna e cabe à própria universidade apurar.”
Damas afirmou que a UERR está conduzindo sua própria investigação interna, dentro do que prevê o direito administrativo, para apurar a conduta dos servidores envolvidos. “O que me interessa, institucionalmente, é o que aconteceu do muro da universidade para dentro. Precisamos entender o papel de cada um. Vários servidores foram citados, e cabe à universidade, sim, fazer esse processo administrativo disciplinar.”

UERR instalará processos administrativos contra servidores citados em operação da PF, incluindo o atual reitor
Durante a entrevista ao Papo M3 Realidades, o vice-reitor também explicou as medidas institucionais adotadas pela UERR após a nova fase da operação da Polícia Federal. De acordo com ele, ainda não há clareza total sobre quem são todos os servidores envolvidos nem quais as imputações específicas a cada um, o que reforça a necessidade de ação por parte da universidade.
“Nós não sabemos exatamente nem quantos são todos os servidores envolvidos, nem o que exatamente se imputa a cada um”, afirmou Damas.
Diante disso, o Conselho Universitário — órgão máximo de deliberação da UERR — foi convocado extraordinariamente pelo próprio reitor, professor Cláudio Silva, após o avanço das investigações.
“O próprio reitor atual convocou o Conselho e disse o seguinte: ‘Eu quero que vocês se reúnam, quero que se instale processo contra todo mundo, inclusive contra mim. Eu quero que sejam apuradas as imputações feitas a mim e a qualquer outro servidor’. Isso foi um posicionamento ético e institucional importante”, destacou o vice-reitor.
Damas informou ainda que, por orientação do reitor, o Conselho determinou o afastamento cautelar de servidores que ocupam funções administrativas e que foram citados na investigação, como forma de garantir a isenção dos procedimentos internos.
“Não se trata de exoneração, é um afastamento cautelar, necessário para que o processo tenha lisura e para que cada servidor tenha a oportunidade de se defender”, explicou.
A universidade também se mobilizou para notificar oficialmente as autoridades estaduais e solicitar acesso aos autos da investigação da Polícia Federal.
“Foi requerido à Polícia Federal, ao juiz e ao promotor que encaminhem os documentos do processo para que possamos instaurar os procedimentos internos com base em informações concretas. A partir daí, as portarias de instauração poderão indicar: ‘a fulano de tal é imputado isso, isso e isso’, para que cada um possa apresentar sua defesa dentro do devido processo legal”, completou.
O vice-reitor reiterou que a medida é uma resposta institucional necessária diante da gravidade das denúncias. “Temos um compromisso com a verdade e com a sociedade. A universidade precisa fazer sua parte, com responsabilidade, respeitando o direito de defesa, mas sem omissão.”
As investigações seguem sob responsabilidade da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU). A UERR informou que continuará colaborando com as autoridades e reforçou que os processos administrativos internos não substituem as medidas judiciais, mas são complementares no âmbito da administração pública.

Cláudio Delicato, atual reitor da UERR, e o ex-reitor, Regys Freitas. Foto: Reprodução
Por: M3 Comunicação