
Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Guiana, Ilane Henz. Foto: M3 Comunicação Integrada
Última modificação em 3 de abril de 2025 às 09:10
A Guiana deve ser o país que mais vai crescer em toda a América Latina em 2025. A previsão foi feita pelo Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2024, produzido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com dados sobre emprego, economia e clima na região.
O país que desde 2015 tem uma economia fortemente atrelada à exploração de petróleo teve crescimento de 29,9% no PIB do ano passado. A Guiana faz fronteira com a Venezuela, o Suriname e com o Brasil, por meio do Estado de Roraima. Muitos roraimenses já visitaram o país vizinho, mas não foram além das ruas principais de Lethem.
Segundo a presidente da Câmara de Comércio Brasil-Guiana, Ilaine Henz, nos últimos cinco anos a integração entre os países aumentou, mas ainda não o suficiente. Ilaine comenta que essa falta de interação representa a perda de uma oportunidade de exploração turística, principalmente para Roraima:
“Nós não temos ainda em Roraima brasileiros indo fazer turismo na Guiana, assim como nós não temos guianenses vindo fazer turismo em Roraima porque ainda nós ainda estamos nessa construção da relação, nós ainda estamos nos conhecendo. A a grande maioria das pessoas em Georgetown, nunca vieram a Boa Vista.”
Oportunidades para Roraima
As reservas de petróleo encontradas na Guiana tem capacidade para algo em torno de 11 bilhões de barris. Número que corresponde a aproximadamente 75% das reservas brasileiras, que somam aproximadamente 15 bilhões de barris. A exploração acontece principalmente pela petrolífera estadunidense ExxonMobil, que conta atualmente com uma produção de 600 mil barris por dia. Até 2027 a estimativa é que essa produção alcance 1,2 milhão barris por dia.

E com todos os setores em desenvolvimento, o Brasil – e principalmente Roraima – têm muito a se beneficiar de uma relação comercial com a Guiana. “A Guiana hoje é um país em construção. Então você tem obras de infraestrutura, de tudo que você imaginar”, aponta Ilaine, salientando que o roraimense mais antenado já está aproveitando essa oportunidade.
Além da exploração petrolífera, a Guiana também tem uma economia baseada na exploração mineral e, recentemente, agrícola. Com um país em desenvolvimento, diversos setores também estão em expansão, como por exemplo a saúde. A presidente da Câmara de Comércio destaca o projeto para construção de um complexo hospitalar em Lethem, cidade mais próxima de Roraima. A demanda por profissionais especializados cresce e, com isso, o país vizinho é quem mais tem a ganhar.
Desafios: barreira linguística e falta de acordos
Em 2024 mais de 600 caminhões brasileiros entraram na Guiana levando uma série de insumos, principalmente materiais voltados para a construção civil. O ano de 2025 mal começou e mais de 150 caminhoneiros brasileiros já cruzaram a fronteira entre Brasil e Guiana por meio de Roraima, mas um entrave recente fez com que o fluxo de caminhões fosse paralisado: a falta de um acordo comercial entre os dois países. “Eu penso que a coisa mais importante que nós precisamos hoje é efetivar o Acordo de Transporte de Cargas e Passageiros entre o Brasil e a Guiana”, pontua a presidente da Câmara de Comércio Brasil – Guiana, Ilaine Henz.
Ainda de acordo com Ilaine, esse acordo já existe há 20 anos, mas nunca foi de fato implementado. “Com esse novo momento que a Guiana vive, há 3 anos atrás, o governo guianense fez um processo simplificado e começou a autorizar a entrada dos caminhões brasileiros para Guiana”, explica Ilaine.

A simplificação foi feita, principalmente, porque o governo guianense tinha necessidade de produtos exportados pelo Brasil. Contudo, caminhoneiros guianenses reclamam da falta de reciprocidade brasileira em flexibilizar também a entrada de caminhões da Guiana.
“Então, os nossos caminhões entravam, mas os deles não tem autorização de vir para cá. Agora, num movimento de pressão e principalmente com o aumento do fluxo de caminhões brasileiros, os caminhoneiros guianenses começaram a reclamar da demora, da burocratização e dessa falta de reciprocidade”, conta Ilaine.
A solução está sendo debatida com o Itamaraty, porém, a passos lentos demais para um país como a Guiana, que tem demandas crescentes de produtos que o Brasil poderia estar exportando. Além disso, com a falta de implementação do acordo, o transporte de passageiros também não é autorizado e as empresas de ônibus não conseguem ofertar viagens que liguem os dois países, o que dificulta ainda mais as relações comerciais.
Por fim, Ilaine cita as dificuldades linguísticas entre Brasil e Guiana: “ainda muito poucos brasileiros que falam realmente inglês a nível de poder ir para uma mesa de negociação e fazer a coisa acontecer”, comenta a presidente da Câmara de Comércio Brasil – Guiana.
Transporte e logística: dificuldades e avanços
A falta de pavimentação da estrada que liga Boa Vista a Georgetown ainda tem diversos trechos não pavimentados, o que, segundo Ilaine Henz, é uma realidade que deve mudar nos próximos 5 anos. “Hoje nós temos a estrada a partir de Lethem até a capital Georgetown com praticamente 400 km que ainda falta definir quando vai ser asfaltado”, comenta a presidente da Câmara de Comercio, apontando que atualmente está em execução uma obra de pavimentação de 130 km entre Linden a Mabura Hill.

Apesar da falta de asfalto, Ilaine afirma que a estrada é utilizada e está em boas condições. “Nós temos caminhões, rodando, nós temos carros. Eu inclusive fiz a viagem em novembro, dezembro e fevereiro de carro. Dá para ir de carro. É uma viagem cansativa, mas a estrada tem trafegabilidade”, afirma. Outro ponto positivo são as pontes sobre os rios no trajeto até a capital guianense. Das 52 pontes que fazem parte do trajeto, 47 já estão com estrutura de concreto.
Futuro promissor
Mesmo com desafios ainda existentes, o cenário atual é promissor e os esforços em prol de uma comunicação mais eficaz entre os dois países por meio de Roraima são cada vez maiores. O potencial de crescimento é grande e as oportunidades são cada vez melhores, é o que fala a presidente da Câmara de Comércio Brasil Guiana:
“Hoje, o que que a Guiana quer de nós? Nossa expertise, a nossa experiência com a agricultura, nossa experiência e capacidade de conhecimento técnico com infraestrutura, nossos produtos, mas principalmente o que a Guiana quer? A nossa ajuda”
E ela não para por aí, os benefícios de uma relação entre os dois países afetam não apenas os empresários, mas a população civil que tem a possibilidade de se integrar com outro país e aprimorar sua cultura e economia. “Quando eu vou, eu gasto dinheiro, quando eles vêm, eles trazem dinheiro. Então o benefício econômico começa a circular na sua economia”, finaliza.
Por: M3 Comunicação