
Operação obriga garimpeiros a se renderem da Terra Indígena Yanomami. Foto: Divulgação / Gov
O silêncio da floresta foi interrompido às 20h43 do dia 9 de junho, quando uma explosão, executada pelo Comando Conjunto Catrimani II, destruiu a pista clandestina no garimpo do Mucuim. O impacto marcou o início da Operação Asfixia, uma ofensiva que atravessa rios, estradas vicinais e ocupa a Terra Indígena Yanomami (TIY).
Sob coordenação da Casa de Governo, a operação mobiliza forças armadas, agências de fiscalização e instituições ambientais em uma ação para sufocar a estrutura que alimenta o garimpo ilegal na Amazônia.
Ao longo das semanas seguintes, as tropas avançaram em direção ao interior da floresta. Fechando o cerco por todos os lados, desmobilizaram a infraestrutura clandestina e interromperam o abastecimento dos garimpos. A ofensiva se dividiu em duas frentes simultâneas: uma operando dentro da TIY e outra controlando o entorno, pelas rodovias e vicinais que cortam o sul do estado.
No dia 17, uma nova etapa da operação foi acionada com a instalação de uma base de operações no garimpo do Rangel, região estratégica à margem do rio Couto Magalhães. A partir desse ponto, helicópteros pousaram, quadriciclos cruzaram trilhas de mata e embarcações navegaram entre igarapés em missões de patrulhamento e ocupação. A presença contínua de forças federais na área obrigou dezenas de garimpeiros a se entregarem espontaneamente.

O acampamento montado no centro do garimpo passou a funcionar como núcleo de comando para ações conjuntas, conectando Casa de Governo, Força Nacional, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Exército. A operação desmantelou a logística aérea com a destruição de pistas clandestinas e o bloqueio de outras rotas de acesso. O sobrevoo do drone Hermes 900 reforçou a vigilância nos céus, monitorando movimentos suspeitos e mapeando novas áreas de atuação.
Ainda no interior da TIY, no dia 17 de junho, o Comando Conjunto Catrimani II executou a destruição da pista clandestina do Noronha, localizada às margens do rio Uraricoera. Durante a ação, uma aeronave com prefixo adulterado foi inutilizada, além de ferramentas, equipamentos de manutenção e sacos de cassiterita apreendidos.
No dia 23 de junho, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) destruiu a Pista do Japão, localizada em Samaúma, fora do território yanomami. A pista clandestina, com aproximadamente 800 metros de extensão, era usada para apoio logístico ao garimpo ilegal.
Ainda no dia 23, em ação de repressão fluvial no rio Apiaú, a Força Nacional e servidores da Funai localizaram e destruíram um acampamento em funcionamento. Foram apreendidos 300 litros de combustível, galões de óleo e gasolina, uma barraca coberta com lona, uma rede e um fogão a lenha ainda aceso. Os combustíveis foram recolhidos e os demais itens inutilizados no local.

Na manhã do mesmo dia, dois garimpeiros foram conduzidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) até a Superintendência da Polícia Federal (PF) em Boa Vista. A rendição voluntária dos dois homens se somou à série de entregas que vêm ocorrendo desde a ocupação do garimpo do Rangel. A presença permanente das forças no território, somada ao bloqueio das rotas de fuga, vem enfraquecendo a capacidade de resistência dos grupos ilegais.
Mais tarde, a repressão ao garimpo ilegal se estendeu à zona urbana de Boa Vista. Em uma ação conjunta entre Ibama, PRF, Força Nacional e Polícia Judiciária (PJ), foram apreendidos 620 quilos de cassiterita extraída da TIY. O material estava sendo secado no quintal de uma residência, onde dois homens tentaram fugir ao notar a chegada dos agentes. Eles confessaram que o minério havia sido retirado de uma área às margens do rio Uraricoera, dentro do território Yanomami. Também foram apreendidos uma caminhonete, GPS e balança digital.
Enquanto isso, fora da terra indígena, o entorno da TIY foi fechado com uma rede de fiscalizações em terra. Equipes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), PRF, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e Força Nacional atuaram em conjunto na instalação de barreiras e no controle de veículos nas vicinais de Samaúma, Campos Novos e Roxinho. As patrulhas se concentraram especialmente nas entradas utilizadas para o transporte de combustíveis, alimentos e equipamentos usados pelo garimpo.

Na vicinal 2 de Samaúma, uma casa foi flagrada com galões de combustível estocados, confirmando o uso do local como ponto de apoio ao garimpo. Em outras abordagens, moradores relataram que, antes da instalação das barreiras, aviões utilizados pelo garimpo pousavam diretamente nas vicinais 2, 3 e 6. As aeronaves sobrevoavam a região nas primeiras horas do dia, realizavam pousos rápidos em trechos improvisados das estradas.
Em meio ao avanço das operações, houve também espaço para o resgate humanitário. Um garimpeiro ferido, de 28 anos, foi resgatado no domingo, dia 22, por agentes da FUNAI e Força Nacional após passar cinco dias esperando por socorro na região do garimpo do Rangel. Os agentes realizavam uma operação de rotina quando o homem, abrigado em uma pequena cabana às margens de um rio, pediu ajuda. Ele apresentava ferimentos e relatou ter sido atacado com golpes de facão por um “gerente” do acampamento, após um desentendimento sobre a divisão do ouro.
Com o avanço da operação militar, os garimpeiros começaram a fugir da região, e deixou o homem ferido para trás, no ponto onde foi encontrado pela Força Nacional. Oficinas, casas de apoio e pistas informais foram abandonadas às pressas. Em algumas áreas, nem mesmo as aeronaves clandestinas voltaram a sobrevoar. Em outras, apenas marcas de pneus e trilhas de fuga indicavam o recente abandono.

A estratégia de sufocamento funcionou não apenas como uma resposta direta à presença do garimpo ilegal, mas como uma sinalização clara de que a retomada do controle do território é uma política de Estado. Segundo dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a atuação coordenada das forças públicas resultou em uma redução de 96% das áreas de garimpo ilegal na TIY.
A operação, no entanto, segue intensa para erradicar os últimos focos de atividade remanescente, que ainda se concentram em áreas de difícil acesso, com logística ativa ou estrutura oculta sob a floresta. Para as autoridades, manter a pressão é essencial para impedir o reagrupamento de garimpeiros e garantir a consolidação da desocupação.
Fonte: Agência Gov
Por: M3 Comunicação