
Muryanne Gianluppi, mãe atípica e presidente da (UPPA) União de Pais e Pessoas Autistas. Foto: M3 Comunicação
Última modificação em 15 de maio de 2025 às 10:52
O episódio #15 do podcast Papo M3 Realidades vai ao ar nesta quinta-feira (15) e recebe Muryanne Gianluppi, mãe de uma criança autista que transformou sua jornada em uma rede de apoio coletivo.
No bate-papo, ela fala sobre os desafios diários, a importância da informação e da empatia, além de refletir sobre inclusão e políticas públicas. Um episódio sensível e inspirador, que dá voz a realidades muitas vezes invisibilizadas.
A jornada de Muryanne Gianluppi até Roraima
Muryanne Gianluppi nasceu em Costa Rica, Mato Grosso do Sul, uma cidade pequena com cerca de 20 mil habitantes. Após 14 anos em sua cidade natal, ela seguiu para a faculdade, onde se formou em enfermagem e trabalhou por mais de uma década, incluindo na área de ensino.
Sua vida tomou outro rumo quando ela e a família decidiram se mudar para Roraima, há quatro anos. Esse novo capítulo não foi apenas uma mudança geográfica, mas também uma experiência de adaptação e de transformação pessoal.
Ela conta que foi seu marido, natural de Boa Vista, quem a convenceu a se mudar para a cidade. No entanto, a adaptação de Muryanne a Boa Vista não foi apenas uma questão de conforto familiar. Ela também descobriu a cidade como um lugar de oportunidades.
“Quando as coisas são propósitos de Deus, tudo flui de forma natural,” reflete. “Tudo casou tão bem, e Deus foi colocando pessoas muito abençoadas ao nosso lado.”
Mas a adaptação à nova realidade em Roraima trouxe alguns desafios para Muryanne, especialmente no que diz respeito à distância da família, que permanece em Mato Grosso do Sul.
“A distância, principalmente, da minha família, que é um pouco mais difícil para conseguir visitá-los, para eles conseguirem vir também”, contou.
Outro ponto marcante foi a mudança climática, que exigiu um período de adaptação. Apesar disso, Muryanne encontrou motivos para se encantar pela nova terra, entre eles, a culinária local.
“Nunca comi um peixe tão gostoso como tem aqui”, afirmou, com bom humor.
Os primeiros sinais de autismo no filho
O caminho até o diagnóstico de autismo em uma criança costuma ser repleto de dúvidas, receios e, muitas vezes, culpa. Muryanne relembra o momento em que começou a perceber os primeiros sinais no filho, aos dois anos e meio.
“Acho que aquela história de que quando nasce uma criança, nasce uma mãe que se sente culpada é automática, né?”, diz. “Desde a gestação você já é cobrada pela alimentação. Quando nasce, tudo que você está comendo está dando cólica. Aí você para de comer tudo, e a criança ainda chora. É um desespero.”
O alerta veio durante um passeio em família à praia, um ambiente até então familiar para a criança. “Ele brincava com várias texturas, ia à quadra de areia, pisava tranquilo. Mas com dois anos e meio, quando chegou na praia, ele simplesmente sentou e colocou o pezinho em cima da cadeira. Não quis tocar a areia”, conta.
Foi a partir desse comportamento que Muryanne começou a buscar mais informações e descobriu a chamada poda neural, um processo neurológico comum no desenvolvimento, mas que, no caso do autismo, pode evidenciar mudanças significativas por volta dessa idade.
Além da sensibilidade sensorial, outros sinais começaram a surgir. A perda de habilidades que o menino já havia adquirido chamou atenção. “Ele fazia a oração completa comigo, e de repente parou. Eu falava e ele não respondia mais”, relembra. Inicialmente, ela atribuiu à preguiça ou a uma fase passageira.

Descoberta: a difícil caminhada até o diagnóstico de autismo do filho
O diagnóstico de autismo do filho Miguel começou a se desenhar a partir de uma conversa inesperada. Muryanne conta que foi uma vizinha, professora, quem primeiro levantou a possibilidade.
“Um dia ela chegou em mim e falou: ‘Muri, eu acho que o Miguel tem algumas características de autismo’”, relembra. A princípio, o impacto foi grande. “Quando você escuta pela primeira vez, fica meio assim. Mas aí você começa a ler, e tudo o que eu lia fazia sentido. Casava com o que eu via nele. A consciência já vai vindo.”
Com a suspeita mais clara, Muryanne buscou atendimento especializado. Agendou uma consulta com uma neurologista na cidade onde morava, em Itapeva (SP). A experiência, no entanto, foi marcada por insensibilidade e julgamento.
“A clínica tinha dois pisos e era preciso subir uma escada. Quando chegamos, a médica saiu da sala e veio nos receber ali mesmo. Achei estranho, mas seguimos”, relata.
Após apenas 30 minutos de avaliação, a profissional deu um diagnóstico definitivo. “Ela falou: ‘Olha, teu filho é autista, ele tem todas as características’. E completou com uma frase que ela nunca esqueceu: ‘Eu reconheço o autista por subir a escada’.”
A afirmação, além de precipitada, foi profundamente dolorosa para Muryanne, que até então conhecia apenas o autismo pelo estereótipo mais severo. “O que eu sabia era do autismo nível 3 de suporte, com comportamentos agressivos, autolesivos, sem intervenção. Quando se falava em autismo, era isso que vinha à mente.”
Aceitação: o caminho desafiador após o diagnóstico do filho
Receber o diagnóstico de autismo de um filho é um processo que vai muito além da consulta médica. Envolve uma fase complexa de aceitação, especialmente dentro da família. Para Muryanne, um dos primeiros obstáculos foi lidar com a resistência de gerações anteriores.
“Existe uma resistência, principalmente das pessoas mais velhas. Eles não conseguem lidar com a situação, e a gente precisa ir preparando eles aos poucos”, explica.
Ela destaca que, mesmo em gerações passadas, já era possível perceber comportamentos diferentes em alguns familiares, mas que passavam despercebidos por falta de conhecimento.
Para ela, o processo de aceitação, no entanto, não termina com a compreensão do diagnóstico, ele se estende à quebra de estigmas sobre as capacidades da criança. Muryanne lembra que, no início, a maior angústia era imaginar que o filho não conseguiria ter autonomia.
“Você acha que a criança não vai conseguir comer sozinha, não vai conseguir ir ao banheiro sozinha. Mas isso é o que a gente chama de habilidades básicas, e elas são trabalhadas com todas as crianças, independentemente do nível de suporte”, afirma.
Para ela, garantir autonomia é o verdadeiro desafio, e também o maior objetivo. “Não é porque ela é uma criança nível 3 de suporte que eu não vou ensinar ela a se limpar no banheiro. Eu preciso ensinar. Eu preciso deixar ela cada vez mais com autonomia. Esse é o desafio.”
A fala de Muryanne traz à tona a importância da informação, da intervenção precoce e, principalmente, da mudança de mentalidade sobre o que significa viver com autismo. Para ela, o diagnóstico não é uma sentença, é o ponto de partida para uma jornada de descobertas, aprendizado e superação.
A entrevista completa com Muryanne Gianluppi vai ao ar nesta quinta-feira, 15 de maio, a partir das 17h no canal oficial do podcast Papo M3 Realidades.
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Por: M3 Realidades