
Entre os principais perigos, está a adultização infantil, caracterizada pela antecipação de comportamentos, responsabilidades e estéticas que não pertencem ao universo infantojuvenil. Foto: Divulgação
Última modificação em 25 de agosto de 2025 às 10:17
A Defensoria Pública do Estado de Roraima (DPE-RR) faz um alerta à sociedade sobre os riscos crescentes da exposição indevida de crianças e adolescentes nas redes sociais, um fenômeno que tem provocado impactos profundos no desenvolvimento emocional e psicológico dos jovens. Entre os principais perigos, está a adultização infantil, caracterizada pela antecipação de comportamentos, responsabilidades e estéticas que não pertencem ao universo infantojuvenil.
De acordo com o defensor público Jaime Brasil, que atua nas Varas da Infância e da Juventude, a DPE já acompanha casos locais de jovens expostos excessivamente na internet, envolvidos com grupos virtuais de violência, automutilação e isolamento social.
“Há crianças sendo incentivadas a buscar fama ou dinheiro a qualquer custo, sendo transformadas em influenciadores, líderes religiosos mirins ou pequenos empreendedores. Tudo isso rouba delas o direito de viver plenamente a infância”, afirmou.
O defensor também destaca a fragilidade das leis frente aos crimes virtuais. Segundo ele, a pena prevista para quem compartilha ou armazena imagens de abuso sexual infantil ainda é branda.
“Hoje, um réu primário que comete esse tipo de crime pode sequer ser preso. É inadmissível diante da gravidade do que está em jogo”, pontuou.
Escolas como espaço de escuta e acolhimento
Para enfrentar esse cenário, a DPE-RR tem investido em ações de aproximação com os jovens. Um exemplo é o Programa Descomplica, que leva oficinas de mediação de conflitos para escolas públicas em todo o estado. Nessas atividades, adolescentes encontram um espaço seguro para falar sobre temas como bullying, violência doméstica, abuso sexual e dependência digital.
A psicóloga da Defensoria, Dellyane Torres, que atua diretamente no programa, explica que o processo de adultização pode causar consequências sérias, como ansiedade, depressão e baixa autoestima.
“Crianças que assumem responsabilidades precoces ou se preocupam excessivamente com a aparência tendem a se isolar e a apresentar comportamentos típicos de adultos, o que compromete seu desenvolvimento emocional”, alerta.
Ela reforça a importância do papel da família e da escola como ambientes seguros, com diálogo aberto e escuta ativa. “Quando uma criança é ouvida e acolhida, ela tem mais chances de se desenvolver de forma saudável e de lidar melhor com os desafios da adolescência e da vida adulta”, disse.
Internet não é terra sem lei
Com mais de 24 milhões de crianças e adolescentes brasileiros ativos na internet, segundo a pesquisa TIC Kids Online, a exposição de conteúdos inadequados e o contato com desconhecidos se tornam cada vez mais comuns. Em 2024, a SaferNet Brasil já registrou mais de 53 mil denúncias de crimes de abuso e exploração sexual de menores na internet.
O defensor Jaime Brasil reforça que, além do monitoramento dos pais, é urgente a responsabilização de plataformas digitais que permitem ou facilitam esse tipo de conteúdo. “Liberdade de expressão não pode ser desculpa para permitir a circulação de material criminoso. As empresas precisam ser cobradas”, defendeu.
Como denunciar?
A Defensoria reforça que a proteção de crianças e adolescentes é dever de todos: família, sociedade e poder público. Casos de exposição indevida, abuso ou exploração podem ser denunciados por diversos canais:
- Conselho Tutelar
- Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA)
- Disque 100 – Direitos Humanos
- Disque 125 – Coordenação de Denúncias de Violação de Direitos da Criança e do Adolescente (Cisdeca)
Além disso, qualquer pessoa pode procurar diretamente a Defensoria Pública, seja nas comarcas do interior, seja na sede cível da capital, localizada na Av. Sebastião Diniz, nº 1165 – Centro, Boa Vista.
Com informações da Assessoria
Por: M3 Comunicação