
Sede da Embrapa em Roraima. Foto: Reprodução
O mercado brasileiro de hortaliças é hoje altamente diversificado e segmentado, com o volume de produção concentrado em diversas espécies, entre elas batata-doce e cenoura, sendo a agricultura familiar responsável por mais da metade da produção. As principais culturas cultivadas no território brasileiro hoje são capazes de apresentar alta produtividade e grandes volumes de produção.
Para ampliar ainda mais esses resultados, a Embrapa Roraima investe no melhoramento de novas culturas adaptadas ao estado, com foco na qualidade do pós-colheita.
Para isso, a Embrapa Roraima, em parceria com a Embrapa Hortaliças, está conduzindo testes com novas cultivares de batata-doce adaptadas às condições tropicais da região. O objetivo é ampliar a produção e garantir que a qualidade da raiz colhida atenda às expectativas do consumidor.
Segundo Lucimeire Pilon, pesquisadora da área de pós-colheita, os testes são essenciais porque uma variedade que funciona bem em Brasília, onde o clima é seco e a altitude elevada, pode ter um desempenho completamente diferente em Roraima. “Uma batata-doce pode ir muito bem lá e aqui ser uma catástrofe, não produzir nada”, afirma.
A pesquisa envolve etapas desde o melhoramento genético até a avaliação da qualidade após a colheita. “Às vezes, no campo, a batata-doce está linda, mas quando vai para o prato, é amarga ou sem sabor”, explica Lucimeire.
A Embrapa também destaca o impacto social da pesquisa. Após o evento Mulheres Rurais, realizado em 2023, agricultoras locais passaram a cultivar batata-doce como alternativa de renda. “Foi emocionante ver aquelas mulheres guerreiras começando a produzir. Isso mostra o quanto a pesquisa pode transformar realidades”, destaca a pesquisadora.
Entre os desafios está garantir que as novas cultivares não só tenham boa aparência e produtividade, mas também resistam a pragas, durem mais tempo na prateleira e tenham bom sabor. “É como montar a pessoa ideal: você cruza características boas, mas se exagera em uma, pode perder outra. A ciência tem que equilibrar tudo”, conclui Lucimeire.

Batata-doce avança em Roraima como alternativa econômica
A expansão do cultivo da batata-doce em Roraima tem ganhado força não apenas como uma alternativa econômica para pequenos agricultores, mas também como uma estratégia para combater a insegurança alimentar. Estima-se que apenas na região de Boa Vista, cerca de 600 hectares são dedicados à cultura, e novos grupos de produtores, como em Rorainópolis, estão aderindo à atividade após ações de incentivo promovidas pela Embrapa.
“A batata-doce é uma cultura fantástica, rica nutricionalmente, e tem um papel importante para populações vulneráveis, como comunidades indígenas, que muitas vezes consomem menos nutrientes do que o recomendado pela OMS”, afirma Lucimeire.
Além do cultivo, a Embrapa tem apostado na batata-doce biofortificada, com alto teor de beta-caroteno, precursor da vitamina A. Segundo Lucimeire, esse pigmento, também presente na cenoura e na abóbora, é essencial para a saúde ocular e ajuda a prevenir problemas como a cegueira noturna.
“Esses pigmentos coloridos, como o beta-caroteno e a antocianina, são compostos bioativos. Eles não apenas nutrem, mas protegem nosso organismo. Quanto mais colorido o prato, mais saudável ele é”, explica a pesquisadora.
No entanto, a produção não se limita ao campo. A etapa pós-colheita é decisiva para garantir a qualidade do produto na mesa do consumidor. Lucimeire alerta que muitos produtores ainda desconhecem práticas simples que evitam perdas e prolongam a vida útil da raiz.
“Imagina todo o trabalho feito no campo sendo perdido porque o produtor não soube armazenar a batata-doce. A perda pode chegar a 40%. Por isso, ensinamos técnicas como a cura, que fortalece a casca e evita o apodrecimento”, destaca.
Ela destaca que a Embrapa tem promovido oficinas e eventos técnicos para capacitar produtores locais. A orientação é clara: além de plantar, é preciso colher e armazenar corretamente. Para Lucimeire, isso é parte essencial da missão pública da instituição.
“É nossa obrigação, como pesquisadores e servidores públicos, garantir que o produtor saiba como cuidar do que planta. Não basta lançar a cultivar, temos que ensinar como manter sua qualidade até o consumidor final.”
Embrapa aposta em cenouras adaptadas ao clima tropical e quer expandir testes para o Norte
A Embrapa Hortaliças, com sede em Brasília, está há mais de 40 anos desenvolvendo cultivares de cenoura adaptadas ao clima tropical. O programa de melhoramento genético, iniciado em 1980, foi responsável por um marco na agricultura brasileira: o lançamento da cultivar Brasília, a primeira cenoura de verão do país, resistente a altas temperaturas e doenças comuns nas regiões tropicais. Agora, o objetivo é testar novos materiais em áreas do Norte, como Roraima, consideradas “novas fronteiras agrícolas”.
Hoje, quase toda a produção comercial de cenoura no Brasil é baseada em híbridos, sementes mais exigentes, mas com alto potencial produtivo. A Embrapa trabalha tanto com híbridos quanto com cultivares de polinização aberta, mais rústicas e resistentes a condições adversas. Um exemplo é a BRS Paranoá, que produz uma cenoura resistente, versátil e de ciclo curto, ideal para pequenos agricultores.
A pesquisadora Lizz Kezzy, responsável pelo programa de melhoramento genético, destaca a importância de desenvolver materiais que, além de tolerarem altas temperaturas, também sejam produtivos e resistentes a doenças como a queima das folhas e nematoides, comuns em climas quentes e úmidos.
“Não adianta ter um material tolerante ao calor se ele não for produtivo ou resistente às doenças. A cenoura precisa ter padrão comercial para o produtor conseguir vender”, afirma Lizz.
Ela explica que a Embrapa seleciona genótipos que combinam produtividade com qualidade e resiliência. O trabalho inclui testes em diferentes regiões do país para avaliar como os materiais se comportam em variados climas e solos.
“O que queremos agora é incluir o Norte e o Nordeste no desenvolvimento de novas cultivares. Roraima tem grande potencial, mas precisamos testar antes de recomendar”, explica a pesquisadora.
A produção de sementes comerciais fica a cargo de empresas parceiras, como a Isla Sementes, responsável pela multiplicação das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, como BRS Planalto, BRS Paranoá e o híbrido BRS Carmela.
“A Embrapa gera tecnologia, mas não vende sementes. Quem planta precisa seguir o pacote técnico, com solo adequado, adubação certa e manejo correto para que o potencial da cultivar seja alcançado”, completa Lizz.

Workshop da Embrapa em Roraima promove capacitação sobre cultivo de hortaliças
A Embrapa Roraima realiza no dia 23 de maio de 2025, das 8h30 às 17h10, o Workshop sobre o Cultivo de Hortaliças, voltado a produtores rurais, agricultores familiares e técnicos. O evento acontece na sede da Coopercinco – CEASA, na RR-319, km 2, Gleba Murupu, em Boa Vista (RR), com entrada gratuita.
A iniciativa tem apoio da Coopercinco, FAERR e Senar-RR, e busca fortalecer a horticultura no estado, por meio da troca de experiências, disseminação de boas práticas e orientações técnicas voltadas à produtividade, qualidade e sustentabilidade.
Na programação, pesquisadores da Embrapa apresentarão temas como melhoramento genético da cenoura de verão, manejo de doenças em alho, cebola, tomateiro e pimentão, cultivo protegido de hortaliças em clima tropical e técnicas de pós-colheita da batata-doce. Também será apresentado o Projeto Reniva, voltado à produção de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e sanitária.
Inscrições gratuitas podem ser feitas pelo link: https://forms.gle/mvrYCRUY2s4UGPZF9
Por: M3 Comunicação