Última modificação em 28 de fevereiro de 2025 às 11:45

O ano de 2024 entrou para a história como o ano com o maior número de eleições já realizadas em todo o mundo. Cerca de 1,65 bilhão de pessoas foram às urnas em mais de 70 países, de acordo com dados da The Economist. Apesar desse recorde histórico, o novo relatório do Índice de Democracia da Economist Intelligence Unit (EIU) revela uma dura realidade: a saúde da democracia global está em seu pior momento desde que o índice foi criado, em 2006.
A pontuação média global caiu para 5,17, a mais baixa já registrada, refletindo uma tendência de erosão democrática em todas as regiões do planeta. Apenas 6,6% da população mundial vive hoje em uma democracia plena, uma queda expressiva em relação aos 12,5% registrados há uma década. Ao mesmo tempo, cerca de 40% da população mundial vive sob regimes autoritários.
O Índice de Democracia avalia 167 países e territórios com base em cinco critérios: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis. Com base nesses indicadores, os países são classificados em quatro categorias:
- Democracias plenas
- Democracias falhas
- Regimes híbridos
- Regimes autoritários
A Noruega, pelo 16º ano consecutivo, lidera o ranking como o país mais democrático do mundo, com uma pontuação de 9,81. Nova Zelândia e Suécia completam o pódio. No extremo oposto, o Afeganistão permanece com a pior avaliação global, com apenas 0,25 ponto.
Instabilidade e rebaixamentos
A Europa Ocidental, historicamente uma fortaleza democrática, também enfrentou retrocessos. A França foi rebaixada de democracia plena para falha, principalmente devido à crise política após as eleições legislativas antecipadas convocadas pelo presidente Emmanuel Macron, que falharam em formar uma maioria estável. A constante troca de primeiros-ministros e a baixa confiança pública contribuíram para a queda.
A Romênia também sofreu rebaixamento após uma série de denúncias de irregularidades eleitorais, incluindo o uso de táticas ilegais em redes sociais e violações nas regras de financiamento de campanha. Essas acusações resultaram na anulação da eleição presidencial e na convocação de um novo pleito.
Na Ásia, a Coreia do Sul deixou de ser classificada como uma democracia plena, reflexo de um ambiente político cada vez mais polarizado e de crises institucionais, embora o relatório não mencione diretamente uma declaração formal de lei marcial.
Eleições de fachada e regimes endurecidos
O aumento no número de eleições em 2024 não significou, em muitos casos, avanço democrático real. No Paquistão, o dia da votação foi marcado por violência e pela prisão do ex-primeiro-ministro Imran Khan, levantando dúvidas sobre a legitimidade do processo. A pontuação do país caiu de 3,25 em 2023 para 2,84.
Na Rússia, a reeleição de Vladimir Putin para um quinto mandato foi amplamente considerada fraudulenta, e o país recebeu apenas 2 pontos no índice. Em algumas nações, como Burkina Faso, Mali e Catar, eleições sequer foram realizadas, reforçando a guinada autoritária.
Bangladesh: queda e recomeço
Um caso particular foi o de Bangladesh, que caiu 25 posições no índice após uma grave crise política e a deposição da primeira-ministra Sheikh Hasina. No entanto, o país foi nomeado “País do Ano” pela The Economist graças a esforços de estabilização conduzidos por um governo tecnocrático temporário. Liderado por Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz, o novo governo conseguiu restaurar a ordem e implementar medidas econômicas importantes, o que trouxe uma rara dose de otimismo.
EUA: uma democracia falha sob tensão
Nos Estados Unidos, o índice se manteve dentro da categoria de democracia falha. A polarização extrema, ataques à confiança no processo eleitoral e a fragilidade institucional seguem pesando sobre o desempenho democrático do país. O relatório da EIU alerta que o segundo mandato de Donald Trump, iniciado em 2025, pode trazer novos desafios institucionais, especialmente em relação à independência do serviço público e à legalidade de algumas ordens executivas, uma questão ainda em evolução.
O que esperar de 2025?
Com tantas eleições e transições de poder em 2024, o próximo ano será decisivo para o futuro da democracia global. A grande questão que se impõe é: como esses novos líderes, de Macron a Trump, de Yunus a Putin, escolherão governar? E, sobretudo, até que ponto a democracia será uma prioridade real, e não apenas uma fachada conveniente?
A deterioração da democracia é reflexo apenas de pressões externas, como a guerra na Ucrânia, a ascensão da China e o impacto econômico da pandemia? Ou há algo de mais profundo em jogo, uma falência global da confiança nos próprios mecanismos democráticos?
Fonte: The Economist
Por: Papo M3 Realidades