
Daniel Gianluppi, pesquisador da Embrapa na área de solos. Foto: M3 Comunicação
Última modificação em 1 de abril de 2025 às 10:47
No meio da década de 1980, o estado de Roraima ainda era uma região pouco conhecida e pouco desenvolvida, marcada por vastas áreas de terra e uma população rural que lutava para estabelecer suas bases.
Nesse cenário, um nome que se destaca é o do pesquisador especializado na área de solos, Daniel Gianluppi, que chegou ao estado em 1981, trazendo consigo o desejo de contribuir para o crescimento e desenvolvimento agrícola da região.
Sua história começa um pouco antes, em 1979, quando Gianluppi realizou uma visita exploratória ao estado, mais especificamente a Boa Vista, após participar de um congresso de solos em Manaus.
“Eu vim aqui, dei uma olhada, fiquei um pouco assustado, tudo seco, tudo, não tinha nada de produção. Mas eu sempre gostei de terra, gostei de agricultura, tanto é que eu me criei numa pequena família de agricultores lá no Sul”, relembra o pesquisador.
Apesar da condição do estado, a visão de terras disponíveis e a possibilidade de desenvolver a agricultura em Roraima fizeram o pesquisador refletir sobre as possibilidades futuras. Foi quando ele perguntou a si mesmo: “O que é que eu estou fazendo aqui?”
Para Gianluppi, ele estava em uma terra que, à primeira vista, não parecia oferecer muitas promessas. A paisagem era desolada, e ele sentiu que estava em um ambiente sem grandes perspectivas.
Mas, ao conhecer a região do Taiano, algo lhe chamou a atenção. Lá, ele encontrou um campo de arroz de sequeiro, uma variedade que não depende de irrigação, mas de um cultivo adaptado ao clima seco.
Foi quando Gianluppi se aproximou e viu algo que parecia impossível em um terreno como aquele: arroz de sequeiro, de ótima qualidade, com cachos grandes e maduros, crescendo em solo aparentemente árido. Foi quando se questionou novamente: “O que é que eu não estou vendo aqui?”, foi a segunda pergunta que surgiu em sua mente.
Como poderia um arroz tão bonito e saudável ser cultivado em um local com recursos limitados? A resposta estava na relação entre a natureza e o ambiente.
“Do nada, de uma coisa que não tem nada, de repente um arroz desse tamanho. Com meia dúzia de quilos de adubo. E aí foi quando eu comecei a fazer pesquisa, aí eu descobri porquê. Qual foi o motivo? O ambiente” explicou o pesquisador.
A região tem uma temperatura média anual, com variações favoráveis entre as máximas e as mínimas, o que potencializa o processo de fotossíntese das plantas. Ou seja, o clima da região acelerava o desenvolvimento das plantas, tornando o ciclo de crescimento mais rápido e eficiente.
Essa descoberta levou Daniel Gianluppi a iniciar uma jornada de pesquisa e estudo mais aprofundados. Ele passou a se envolver com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e começou a desenvolver o seu primeiro projeto de pesquisa para entender quais doses de calcário seriam necessárias para otimizar ainda mais a produção de arroz na região de Roraima.
A relação de Gianluppi com a Embrapa
A criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Roraima foi marcada por um capítulo significativo da história da agricultura no Brasil. Daniel Gianluppi, um dos pioneiros da instituição no estado, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da empresa e no impacto de suas pesquisas para a região.
Assumindo a chefia geral da Embrapa Roraima em 1983, Gianluppi atuou até 1991, contribuindo significativamente para o avanço do setor agropecuário local.
Ele relembra que sua atuação foi marcada pela busca por soluções inovadoras. Ele acreditava que, ao integrar as pesquisas com a realidade do campo, seria possível transformar Roraima em um estado agrícola competitivo e sustentável.
“Eu acho que eu tenho uma participação enorme em todas as áreas que estão aí. Eu tive uma grande participação no arroz de sequeiro, quando a gente desenvolveu a adubação no arroz irrigado. A gente botou 5 toneladas a mais por hectare de arroz irrigado. A soja, ela só aconteceu por causa do nosso trabalho, de construção, de solo, de melhoramento genético, de plantas. Porque no início quando nós chegamos aqui, a soja não crescia aqui. Aí tivemos que fazer o melhoramento genético,” relembra Gianluppi.

Embrapa hoje em Roraima
Hoje, a Embrapa Roraima segue sendo um símbolo do potencial de pesquisa e inovação para a agricultura na Amazônia. As tecnologias e soluções criadas ao longo dos anos continuam a beneficiar os produtores locais e a impulsionar a sustentabilidade da agropecuária no estado.
“Estamos avançando, entrando para a era digital e inteligência artificial e essas coisas que a gente até às vezes fica meio divertido porque a coisa no nosso tempo não era assim. A gente trabalhou mais no mecânico, na coisa mais palpável, de ir para o campo, de buscar. E hoje o pessoal senta no computador e faz um monte de coisa, né?” enfatizou o pesquisador.
Além disso, a empresa é um ponto de referência para novas gerações de pesquisadores e agricultores que continuam a trabalhar em prol do desenvolvimento do setor agropecuário de forma equilibrada e sustentável.
“Eu acho que a coisa tá andando, estamos começando monitorar, tá surgindo em função do crescimento da produção”, destaca
Regularização ambiental e o desenvolvimento sustentável de Roraima
A regularização ambiental e o zoneamento adequado do uso sempre foram desafios importantes para o estado de Roraima, especialmente em um cenário onde o antigo Código Florestal não favorecia o desenvolvimento sustentável da região.
A realidade era difícil, se o código fosse mantido conforme a sua versão original, quase nada sobraria para a exploração agrícola no estado, impossibilitando a realização de qualquer planejamento ou zoneamento.
Foi neste contexto que Daniel Gianluppi, então presidente do órgão ambiental de Roraima, se destacou como líder e defensor de um modelo mais viável para a regularização ambiental do estado.
“Nós conseguimos ir lá com a ministra do meio ambiente, Isabela Garcia, eu acho que era ela na época, e conseguimos trabalhar com ela uma a proposta que ficou conhecida como emenda da Ângela Portela, mas que na verdade, ela abriu os caminhos, mas quem fez essa proposta fui eu junto com técnicos do Ministério do Meio Ambiente, que foi reduzir a reserva legal das florestas em 50%”, relembra com orgulho.
Reconhecimentos
Ao longo de sua trajetória, o trabalho árduo e a dedicação de Daniel Gianluppi à sua função têm sido reconhecidos por diversas instituições, refletindo a importância de suas contribuições para o desenvolvimento regional e nacional.
O primeiro marco significativo em sua jornada de reconhecimento aconteceu em 1990, quando Daniel foi laureado com o maior prêmio de distinção do estado: o Oficial da Ordem do Mérito Forte São Joaquim. “Esse prêmio pouca gente tem. É um prêmio extremamente elitista”, relembra com orgulho.
Em 2005, sua dedicação foi novamente reconhecida pela Câmara de Vereadores Municipal de Boa Vista, que lhe concedeu a Medalha de Honra ao Mérito Rio Branco. Um ano depois, ele recebeu também o título de Cidadão Boa-Vistense, outra distinção importante que reforçou seu compromisso com o desenvolvimento da cidade e com o bem-estar da comunidade local.
Em 2011, foi a vez de ser agraciado com o título de Orgulho de Roraima pela Assembleia Legislativa do estado. Este prêmio ressaltou não apenas sua trajetória pessoal, mas também a relevância de suas ações para o crescimento de Roraima, demonstrando a importância do seu trabalho para a sociedade roraimense.
Mas um dos prêmios mais significativos para Gianluppi veio a nível nacional. Em 2013, ele recebeu o Prêmio Sintra de Desenvolvimento e, mais importante ainda, a Medalha Júlio Redec com o diploma de Menção Honrosa pela contribuição ao desenvolvimento do Brasil, concedidos pela Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional da Amazônia e Sindra, da Câmara dos Deputados.
Ele fala com orgulho sobre esse reconhecimento. “Olha, eu não sou vaidoso. Eu sou um cara que estou consciente de que estou dentro de um governo para ajudar, para fazer minha função, para fazer meu trabalho”, destacou.

Por: M3 Comunicação