
Família de Suellen. Foto: Arquivo Pessoal
Última modificação em 12 de maio de 2025 às 15:13
Por trás de cada criança autista, existe uma mãe que enfrenta o mundo com coragem dobrada. Suellen Oliveira, de 36 anos, é uma dessas mulheres. Mãe de duas crianças diagnosticadas com autismo, Miguel e Cecília, ela compartilha uma história de amor, superação e autoconhecimento. Uma jornada que, segundo ela mesma, “não é fácil”, mas é repleta de aprendizados, pequenas vitórias e fé.
Suellen conta que a gravidez de Miguel, seu primogênito, foi planejada. “Foi uma experiência única. Eu lutava há muito tempo para ser mãe, e Deus me deu esse presente. Com 25 anos, realizei meu sonho”, disse.
A maternidade chegou como um renascimento. “Quando uma criança nasce, a gente renasce como mãe. E é um sentimento tão grande, tão prazeroso, que não dá pra descrever. É divino”, conta Suellen, ao lembrar dos primeiros passos, palavras e sorrisos do filho.
Com o tempo, Suellen começou a notar que havia algo diferente. Aos dois anos de idade, a família começou a perceber no Miguel comportamentos atípicos de outras crianças da mesma idade, ele não falava, não apontava, não engatinhou, nem teve as fases comuns do desenvolvimento infantil, foi quando ela decidiu buscar ajuda profissional. “Passei por psicólogo, psiquiatra, neurologista e descobrimos o autismo.”
A alimentação também era uma grande batalha. Aos seis anos, pesando apenas 16 quilos, Miguel foi diagnosticado com desnutrição. Pouco tempo depois, veio o diagnóstico de autismo.
“Quando recebi o diagnóstico, foi um choque. Eu olhava para o meu filho e dizia: ‘Meu filho não tem nada, ele é só mais calmo’. Até aceitar, eu chorei muito, me tranquei, me isolei. Mas um dia, eu olhei no espelho e falei pra mim mesma: ‘Reage. Os teus filhos precisam de ti.’”
Dois diagnósticos, uma mãe e coragem multiplicada
Suellen reagiu, buscou ajuda, correu atrás de terapias, enfrentou o luto da aceitação e, pouco tempo depois, recebeu o segundo diagnóstico: Cecília, sua filha caçula, também é autista. O desafio agora era em dobro, mas a força também havia dobrado.
Diferente de Miguel, Cecília tinha características mais sutis, como o temperamento forte e dificuldade em lidar com frustrações. Foi preciso sensibilidade para perceber os sinais.
“Quando veio o diagnóstico da Cecília, eu olhei de novo no espelho e falei: ‘Agora você tem duas crianças atípicas. Você tem que lutar por elas’. E é o que eu tenho feito. Todos os dias é uma batalha. Mas eu não ando só, meu marido é minha rede de apoio. Um segura a mão do outro e a gente segue”, conta.
Ela não nega as dificuldades: “Não tenho rede de apoio familiar. Quem está comigo é meu marido. Quando eu tô muito irritada, sobrecarregada, é ele quem segura tudo. É ele quem tenta ser forte por mim.”
Ao longo dessa caminhada, Suellen entendeu que cuidar de si mesma também era parte do processo. “A mãe também precisa de cuidados. Eu falei: ‘Eu preciso de ajuda’. Não vou dar conta se eu não me cuidar. Então fui atrás de terapia, porque fora os meus filhos, eu também tenho uma vida, sou uma pessoa, sou esposa”, reflete.
Hoje, ela fala com orgulho dos progressos dos filhos. Miguel, que antes mal se comunicava, agora conversa do jeito dele. “Ele tenta, e as pessoas já entendem. E o melhor: não sofre bullying na escola. Graças a Deus, está sendo acolhido.”

Entre o cuidado e os sonhos: Suellen equilibra maternidade e rotina intensa
Além de mãe, Suellen hoje é estudante de enfermagem, funcionária pública, dona de casa e, muitas vezes, terapeuta dos próprios filhos. Com pouco ou nenhum apoio da família extensa, ela aprendeu a se virar com o essencial: fé, coragem e o apoio do marido. Mesmo com todas as funções acumuladas, ela segue acreditando que tudo é possível.
“Hoje eu sou cozinheira, motorista, empregada, terapeuta e também estudante de enfermagem. Porque eu não desisti. Porque meus filhos merecem o melhor de mim. E quando eu acho que não vou dar conta, Deus me lembra: ‘Você consegue’. E eu consigo.”
Persistência, fé e amor: a mensagem de Suellen para mães atípicas
Com um coração generoso, Suellen deixa um recado para outras mães: “Se você não tem rede de apoio, procure ajuda. Vai no postinho, fala que não tá bem. Tenta. Não adianta achar que não vai conseguir se você não tentar. Você tem que tentar.”
“Peço às mães que nunca desistam dos seus filhos. Nunca”, afirma. Em meio às dificuldades, ela reforça a importância da fé e da persistência. “Por mais difícil que pareça, dobre os joelhos, peça força, levante as mãos e agradeça. Acredite: você consegue. A gente sempre consegue.”
Por M3 Comunicação