
Kaline Barroso é uma artista apaixonada por teatro - Foto: Arquivo Pessoal
Última modificação em 28 de março de 2025 às 09:48
A trajetória de Kaline Barroso no teatro não foi marcada por um momento decisivo, mas sim por uma caminhada gradual, cheia de intuições e descobertas. Desde criança, ela sempre teve uma conexão com a arte.
Sua trajetória começou na Igreja Católica, cantando nas missas das crianças, e continuou nas apresentações escolares de datas comemorativas. “O teatro apareceu na minha vida quase como uma necessidade de expressão”, revela a artista.
O momento decisivo, no entanto, veio quando fundou o Criart Teatral, um marco que a fez enxergar o teatro não apenas como profissão, mas como uma missão.
“Eu não só queria fazer teatro, queria ensinar, transformar pessoas, provocar mudanças reais. Foi aí que entendi o teatro como missão, não apenas profissão “, enfatizou.
Desafios na trajetória de uma mulher no teatro
Kaline, como muitas mulheres, enfrentou muitos desafios apenas por ser mulher em uma profissão que antigamente, era predominantemente masculina, especialmente em posições de liderança e direção artística. Ela lembra de situações em que precisou conquistar seu espaço e superar o preconceito que surgia pela sua condição feminina.
“Ser mulher em qualquer profissão já traz desafios extras”, comentou. O teatro, em sua época, não era exceção, e Kaline teve que lidar com a resistência de quem duvidava de sua capacidade.
“Muitas vezes, tive que lidar com o preconceito sutil de quem duvidava da minha capacidade por ser mulher, mas nunca permiti que isso definisse quem eu sou ou o valor do meu trabalho”, relembra.
Kaline menciona que uma das situações mais engraçadas foi quando alguém a descreveu como um personagem que ela assumiria ao lidar com a equipe técnica predominantemente masculina.
“Uma vez me disseram que quando eu estou realizando um trabalho como produtora eu assumo um personagem, “Kaline Produtora”. Eu ri demais, segundo a pessoa, eu já chego com outra cara e um ar sério, para lidar com a equipe técnica principalmente, pois é predominantemente uma atividade executada por homens”, diz com leveza.
A Palhaça Maritaca: uma personagem transformadora
Entre os muitos personagens que Kaline interpretou, a Palhaça Maritaca se destaca como um divisor de águas, tanto na sua carreira quanto na sua vida pessoal.
“A Palhaça Maritaca, que apesar de não ser um personagem e sim uma “persona” é uma espécie de versão de mim mesma. Ela nasceu em 2005 e marcou profundamente minha trajetória e minha identidade pessoal”.
A Palhaça, que é mais uma versão de Kaline do que um personagem propriamente dito, representou para ela a dualidade entre o riso e o silêncio, a alegria e a leveza.
“Ser Maritaca me ensinou a importância do riso, da alegria e da leveza, mas também a força do silêncio, como as próprias maritacas, que são muito barulhentas em voo, mas silenciosas ao pousar. Essa dualidade simboliza muito minha maneira de encarar a vida hoje” ressalta Kaline.

Teatro como ferramenta de transformação social
Para Kaline, o teatro é uma poderosa ferramenta de transformação social. “Uso o teatro como instrumento de educação e conscientização social”, explica.
Ela acredita que cada peça, cada oficina e projeto artístico tem o poder de sensibilizar e educar o público sobre questões relevantes, como o combate ao trabalho infantil ou o isolamento social.
O teatro, para ela, não é apenas entretenimento, mas uma plataforma para provocar reflexões profundas e promover mudanças.
“Acredito que cada peça, cada oficina ou projeto artístico é uma oportunidade de tocar corações e despertar olhares para questões importantes, ainda que sutilmente. A arte é sim, a minha ferramenta para educar e sensibilizar “, destaca.
Trajetória foi marcada por projetos de circulação nacional
Ao longo de sua carreira, Kaline participou de diversos projetos que marcaram sua trajetória. Um deles foi o projeto de empreendedorismo cultural do Sebrae Roraima, que a ajudou a enxergar a arte não apenas como um ato de paixão, mas também como um empreendimento sustentável.
“O projeto de empreendedorismo cultural do Sebrae Roraima foi como um divisor de águas para o Criart Teatral. Até então, nossa relação com a arte era baseada principalmente na paixão e no prazer de criar e encenar” compartilha Kaline.
Outro momento marcante foi a circulação nacional do espetáculo “João e Maria”, após receber o prêmio Myriam Muniz da FUNARTE, que lhe deu a oportunidade de mostrar seu trabalho em outras regiões do Brasil.
“E a nossa primeira circulação nacional com o espetáculo “João e Maria” com o aporte financeiro do prêmio Myriam Muniz da FUNARTE em 2012. De repente estávamos aterrissando em Recife e tudo o que parecia sonho agora era realidade” destaca Kaline.

Inspirações e a responsabilidade de ser inspiração
Kaline encontrou suas maiores inspirações em pessoas próximas, como amigos artistas, colegas de palco e professores que compartilharam seu conhecimento e amor pela arte.
Ela destaca, em especial, o grupo Clowns de Shakespeare de Natal, no Rio Grande do Norte, que teve grande influência no desenvolvimento técnico e artístico do Criart Teatral.
“Com eles aprendemos muito sobre disciplina, técnica e criação coletiva. Eles se tornaram uma referência concreta, palpável, mostrando que era possível alcançar excelência no teatro a partir de muito trabalho, dedicação e paixão”, revela.
Hoje, Kaline se vê como uma fonte de inspiração para outras mulheres, especialmente em sua região. ” Alunos, ex-alunos e colegas artistas sempre me dão esse feedback, compartilhando como aprenderam algo significativo comigo, seja no palco, nas oficinas ou em sala de aula”, diz com humildade.
Para ela, ouvir esses relatos é uma grande responsabilidade e uma grande motivação para continuar sua jornada. “Saber que, de alguma forma, influenciei positivamente a trajetória de alguém é gratificante e me faz compreender ainda mais a importância do meu papel enquanto artista e educadora”.
Aprendizados e a força de ser mulher
Para Kaline, o teatro tem sido um grande mestre. “O teatro me ensinou que a vida é um constante exercício de empatia, escuta e coragem”, reflete.
Sobre ser mulher, o palco foi o espaço onde ela aprendeu a ser protagonista de sua própria história, reconhecendo a força na vulnerabilidade e o poder na delicadeza. “O teatro mostrou que posso ocupar qualquer espaço e ser quem eu quiser, independente do que a sociedade espere de mim”.
Neste dia mundial do Teatro, comemorado em 27 de março, Kaline reflete sobre como a arte a ensinou a ser protagonista da própria história, a encontrar força na vulnerabilidade e poder na delicadeza. No palco, ela se desconstrói e se reconstrói, sempre mais forte, livre e autêntica.
Por: M3 Comunicação