
Dedicação, fé e muita devoção marcam a história da quadrilheira Cielly Mangabeira. Foto: Arquivo Pessoal.
Última modificação em 25 de março de 2025 às 11:58
Quem conhece Cielly Mangabeira sabe que, para ela, o dia parece ter muito mais do que 24 horas. Em apenas um dia ela consegue fazer um bom treino de crossfit, trabalha como policial militar, vai às aulas da faculdade de odontologia e, acima de tudo, participa dos ensaios da quadrilha.
Dançar quadrilha é algo que sempre esteve presente na vida da Cielly, o amor pelos palcos e por essa tradição junina passou de pai para filha. Desde pequena nos tablados, ela começou a se envolver e participar de apresentações aos 13 anos de idade.
“Eu cresci vendo meu pai dançar quadrilha e eu acho que eu tinha uns 10 anos de idade e ele já dançava. A primeira vez que eu o vi dançar foi no no arraial no Parque Anauá, se eu não me engano. Pronto, aquilo ali me encantou”.
A memória é contada com alegria, até porque, ali foi o começo dessa história de amor com a quadrilha que se conecta com vários outros pontos da vida de Cielly.
“A majestade está de volta”
Entre 2017 e 2019, a quadrilheira deu uma pausa na participação de festivais para se dedicar ao concurso da Polícia Militar de Roraima, foram dois anos sofridos longe dos tablados e das saias rodadas. Mas em 2019 Cielly retornou com sede de vitória e ainda ganhou uma bolsa de estudos em uma das premiações.
“Em 2019, eu participei do concurso do Tianguá, onde eu ganhei uma bolsa de estudos. Como eu tinha trancado, ainda não tinha ensino superior, estava só esperando ser chamada no concurso da PM. Aí, em 2019, eu fui, concorri, fiquei em segundo lugar. A moça que ganhou em primeiro não quis a bolsa de estudos, preferiu mil reais. Como ela não escolheu, me deram a bolsa”, lembra.

concurso da Polícia Militar de Roraima. Foto: Arquivo Pessoal.
No ano em que retornou aos tablados, Cielly Mangabeira dançou como Rainha da quadrilha e ganhou até música especial. Arrepiada, Cielly relata o que sentiu ao ouvir a música de retorno aos palcos.
“Meu Deus, sou eu, eu sou Sou a Cielly, eu sou essa pessoa que tem uma trajetória enorme que todo e todo mundo respeita no meio junino, porque eu fiz uma trajetória, sempre estando ali. Eu podia não ganhar em primeiro, podia não ganhar em segundo, mas eu sempre estava ali, disputando”, relembra Cielly e reforça que o esforço é constante. “Eu sou uma pessoa que estou me reinventando todo o tempo para sempre estar ali, mostrando alguma coisa, mostrando algo novo para as pessoas”, fala.
Amor, fé e devoção
A quadrilha também dividiu com Cielly alguns dos momentos mais difíceis que ela enfrentou. Em 2024 a Quadrilha Garranxê trouxe a história emocionante de um casal que, por meio da fé, transformou suas vidas em um verdadeiro milagre. A inspiração para a música e para a encenação foi Cielly e o marido, que também é quadrilheiro, Kledson Lira.

Tudo começou quando Kledson precisou fazer um transplante de coração devido a um problema congênito. Ele foi encaminhado para um hospital em São Paulo, onde aguardava na fila para por um coração compatível para fazer a cirurgia. Mas durante a espera, ele foi diagnosticado com Covid e acabou na UTI. A situação foi desesperadora, mas Cielly não perdeu a fé.
“Ele foi piorando e foi parar na UTI. Na UTI eu não podia ficar com ele, aí eu fiquei no hotel em São Paulo e ele no hospital”, conta Cielly que mesmo nos momentos mais difíceis, não perdeu a fé: “Na minha cabeça era isso. Nunca duvidei. Eu acho que a minha fé que dizia assim para mim: “Vai dar certo”.
Com essa fé, ela fez uma promessa a Nossa Senhora Aparecida, de quem é devota desde pequena. “Se ele entrasse na fila, que ela deixasse ele entrar na fila, eu ia de joelho da entrada da Basílica dela até ela”, relata. E poucas semanas depois, o milagre aconteceu. Cielly cumpriu a promessa e fez o percurso de joelhos.
Kledson que era ateu acabou virando também devoto de Nossa Senhora Aparecida e a história do casal virou o tema da apresentação da quadrilha: “eu dividi isso no meu Instagram com algumas pessoas e aí a quadrilha ficou sabendo e pegou isso justamente para falar do transplante, né?”, conta.
Ainda em São Paulo, Cielly ainda organizou um bloco do carnaval, chamado “Bloco do Transplantado”, para comemorar a vida das pessoas que já passaram por um transplante de órgãos e ainda estão vivas. Em Boa Vista, a celebração do bloco chegou à sua terceira edição em 2025.
Superação e determinação
A vida de quadrilheira exige muita dedicação, para quem ocupa posições de destaque, como Cielly, a quantidade de esforço é ainda maior. Muitas vezes, é o amor pela dança, pela festa junina e pela quadrilha que move essas pessoas.
“A gente gasta. A gente tira do próprio bolso. Porque em toda apresentação a gente quer levar uma coisa nova, a gente quer levar um figurino novo e o mundo junino tem crescido absurdamente”, conta.
Por isso, uma palavra que, para Cielly, representa sua essência é “determinação”. “Eu acho que realmente que eu sou muito determinada. Eu vejo lá na frente, eu sei que eu vou conseguir, eu sei o caminho que eu tenho que percorrer, eu sei que eu vou ter que abdicar de algumas coisas”, reforça.
Além disso, a fé também e o cuidado com o próximo também fazem parte da personalidade da quadrilheira. “Eu tento sempre me colocar no lugar do próximo e eu acho que isso vem muito com a maturidade”, fala.

E por falar em maturidade, o tempo e as decisões da vida de Cielly levaram a mais uma pausa na quadrilha. Segundo ela, esse é o último ano de maior dedicação aos palcos participando como Rainha ou Noiva, a meta para o próximo ano é se dedicar aos projetos pessoais.
“Eu pretendo ter filhos e eu acho que já passou essa fase”, conta Cielly complementando que não conseguiria permanecer em um projeto onde não pudesse se dedicar integralmente. “Eu gosto de dar o meu melhor em tudo que eu vou fazer, eu tento entregar o meu melhor. Então eu sei que esse é o meu ano de dizer assim: ‘Não, parei aqui’.
Mas apesar da despedida, ela está orgulhosa da trajetória. E se pudesse encontrar com a Cielly de 20 anos atrás, que estava começando a carreira como quadrilheira, ela sabe bem o que iria dizer:
“Eu ia dar parabéns para ela. Eu ia dizer: ‘Cara, que orgulho de você!”.
E apesar de todos os desafios, Cielly sabe que não mudaria nada. Até porque esse é só o início de uma nova fase de uma mulher que, apesar de jovem, já inspirou e ainda inspira várias outras pessoas
Por: M3 Comunicação
Uma história linda!🥹❤️