
Cielly Mangabeira, rainha da quadrilha junina Garranxê. Foto: M3 Comunicação
Última modificação em 5 de junho de 2025 às 09:55
O episódio #18 do podcast Papo M3 Realidades vai ao ar nesta quinta-feira (5) e traz como convidada Cielly Mangabeira, rainha da quadrilha junina Garranxê.
Durante a conversa, Cielly compartilhou detalhes sobre sua trajetória na cultura junina e revelou que a história de sua vida inspirou o enredo da quadrilha Garranxê, que garantiu o título de campeã no Campeonato Brasileiro de Quadrilhas Juninas, com o tema “O Pulsar da Fé”.
O amor pelas quadrilhas: uma vida dedicada ao São João
O envolvimento de Cielly Mangabeia com o meio junino começou cedo, e tem raízes familiares. Ainda criança, ela já respirava São João dentro de casa. Aos 13 anos, subiu ao palco pela primeira vez, marcada pela influência do pai, que também foi dançarino em grupos tradicionais.
“Comecei a dançar, eu tinha 13 anos de idade. Meu pai dançava inclusive na Garranxê, meu pai dançou, mas ele começou na Canecão”, lembra Cielly.
A Canecão, segundo ela, é uma das quadrilhas mais antigas, onde seu pai iniciou e fez história em Boa Vista. Mais do que uma tradição, o envolvimento com quadrilhas virou um legado.
A família fundou a quadrilha que, mais tarde, daria origem à Amor Caipira, grupo no qual Cielly cresceu e se formou como dançarina.
“Eu sempre estive nesse meio junino”, diz, orgulhosa. Na Amor Caipira, ela viveu anos intensos: foi rainha, noiva, conquistou diversos títulos e se tornou uma figura conhecida nos arraiais locais.
Mas em 2017, após uma trajetória marcada por conquistas e dedicação, decidiu que era hora de parar. “Resolvi me aposentar. Eu já queria estudar, focar em outras coisas. Me aposentei com 27 anos.” Naquele momento, Cielly acreditava que sua jornada nas quadrilhas havia chegado ao fim.
No entanto, em 2019, ao ver uma nova oportunidade surgindo, Cielly voltou a olhar para o meio junino com outros olhos. Já afastada dos palcos, mas com o amor pelo São João pulsando forte, ela percebeu que sua história com as quadrilhas ainda não havia terminado.
De sonho antigo à realização: Cielly Mangabeira e a emoção de entrar na Garranxê
Apesar de ter construído grande parte da sua trajetória na quadrilha Amor Caipira, o coração de Cielly Mangabeira sempre guardou um espaço especial para um outro grupo junino: a tradicional Quadrilha Garranxê.
A relação com a quadrilha vem de família, seu pai dançou lá por muitos anos, e sua mãe sempre teve o desejo de vê-la reinando nos arraiais representando a Garranxê.
“A minha mãe sempre dizia que queria me ver como rainha da Garranxê. E olha que ela é da família do meu pai, que é justamente quem fundou a outra quadrilha, a Amor Caipira”, conta Cielly.
No entanto, quando ela estava prestes a começar a dançar, houve uma reviravolta: sua família deixou a Garranxê justamente naquele ano. O sonho de estrear no grupo acabou sendo adiado. Mesmo seguindo sua carreira na Amor Caipira e se destacando em várias funções, a vontade de um dia vestir o figurino da Garranxê nunca desapareceu completamente.
“Sempre quis dançar na Garranxê, sempre! Ficou guardado em mim por muitos anos, sabe?”, diz. Em 2023, ela chegou a se aproximar da quadrilha, mas não pôde se apresentar como queria, pois naquele ano, ela e o esposo foram os homenageados do grupo.
“A gente só aparecia no final, era como naqueles filmes baseados em histórias reais, que os personagens de verdade só aparecem nos créditos”, brinca.
Foi só depois desse momento simbólico que Cielly finalmente entrou para a quadrilha com a qual sempre sonhou. E, mais do que dançar, passou a fazer parte da história da Garranxê.

A fé de Cielly Mangabeira em um dos momentos mais difíceis da sua vida
Em 2022, Cielly Mangabeira enfrentou uma das batalhas mais duras da sua vida: o marido foi diagnosticado com um grave problema no coração e precisou passar por um transplante. Na época, ela estava no meio do curso de formação da Polícia Militar, conciliando aulas com visitas ao hospital. Foi a fé que a sustentou.
“Eu ia para o curso, e quando saía, ia direto para o hospital. Minha cunhada segurou tudo para mim durante o dia. Foi uma fase muito difícil, mas eu precisava continuar.”
Quando o casal viajou para São Paulo para o tratamento, o cenário se agravou, seu marido testou positivo para covid-19 e foi direto para a UTI. Sozinha em uma cidade desconhecida, sem parentes por perto, Cielly se viu totalmente entregue à fé. Na impossibilidade de fazer mais por ele, recorreu a quem sempre confiou: Nossa Senhora Aparecida.
“Fiz uma promessa. Pedi à Nossa Senhora que curasse ele da covid e que ele pudesse entrar na fila do transplante. Disse que, se isso acontecesse, eu iria de joelhos da entrada da Basílica até os pés dela.”
O momento chegou no dia 8 de fevereiro. O médico ligou confirmando que ele havia entrado na fila. Com o coração em paz, Cielly pegou um ônibus sozinha até Aparecida e cumpriu sua promessa. Um senhor desconhecido, comovido pela cena, filmou o trajeto. Ela mal sentiu o chão sob os joelhos.
“Eu não sentia dor. Era só uma felicidade enorme. Parecia que todo o sofrimento tinha virado luz. Meu marido é um milagre. Ele é um milagre.”
Do hospital ao arraial: a história de fé de Cielly Mangabeira vira enredo da Garranxê
O que começou como uma luta silenciosa pela vida do marido se transformou em um grito coletivo de esperança, fé e amor no meio junino. A história de Cielly Mangabeira, marcada pelo transplante do marido e pela promessa feita à Nossa Senhora Aparecida, ganhou uma nova dimensão, virou o enredo da quadrilha Garranxê em 2024.
Durante o período delicado de internação, Cielly dividia com discrição em suas redes sociais pequenos trechos da jornada. Anunciou, por exemplo, que o marido estava bem e compartilhou a festa de aniversário que organizou para ele no hospital. A celebração virou tradição, durante todo o ano que se seguiu ao transplante, ela comemorou os “mesversários” com temas diferentes, até criar um verdadeiro bloco de carnaval chamado “Bloco do Transplantado”, iniciativa que existe até hoje em Boa Vista para conscientizar sobre a doação de órgãos.
“Fiz tudo com muito amor. Todo mês era uma comemoração, como festa de criança mesmo. As pessoas da quadrilha começaram a acompanhar tudo pelo meu Instagram e se conectaram com a história,” relembra Cielly.
Foi dessa conexão espontânea que surgiu a ideia de transformar a dor e superação em arte. Integrantes da Garranxê, sensibilizados, começaram a sugerir o tema para o enredo do ano. A proposta foi ganhando força até se consolidar.
“Um dia, alguém comentou: ‘Vamos falar de transplante’. E aí outra pessoa disse: ‘Vamos falar da história da Cielly e do Kedson, porque tem fé envolvida. Não é só o transplante, é o milagre’,” conta Cielly.
O título do enredo, O Pulsar da Fé, veio da noiva da quadrilha, e sintetiza perfeitamente a mensagem que a Garranxê quer levar aos palcos.
O enredo fez a Garranxê garantir o título de campeã do Campeonato Brasileiro de Quadrilhas Juninas em 2024.
A entrevista completa vai ao ar nesta quinta-feira, 5 de junho, a partir das 17h no canal oficial do podcast Papo M3 Realidades.
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Por: M3 Realidades