
Hyanameyka Evangelista de Lima é a chefe-geral da Embrapa Roraima. Foto: M3 Comunicação
O episódio #10 do podcast Papo M3 Realidades vai ao ar nesta quinta-feira (10) e traz como convidada a chefe-geral da Embrapa Roraima, Hyanameyka Evangelista de Lima.
Ela é a segunda entrevistada de uma série de bate-papos durante o mês de abril, que vai abordar temas relacionados à economia.
A história de Hyanameyka Lima, a primeira mulher a assumir o cargo de chefe-geral da Embrapa Roraima, é marcada por conquistas e dedicação à pesquisa agropecuária. Natural de Boa Vista, capital de Roraima, Hyana sempre foi uma defensora da educação pública.
Ela compartilha com orgulho como sua trajetória acadêmica começou em escolas públicas de Roraima.
“Sou roraimense, nasci aqui em Boa Vista. Estudei a vida toda em escola pública. Me formei na Universidade Federal de Roraima e depois eu fui fazer mestrado e doutorado em Viçosa, na área de fitopatologia que é doenças de plantas”, disse.
Após concluir sua formação, Hyana retornou para Roraima, onde pôde aplicar seu conhecimento e dar continuidade ao seu compromisso com o setor agrícola. Atuou como professora no curso de Agronomia da UFRR e trabalhou na Secretaria de Agricultura do estado, mas seu amor pela pesquisa sempre falou mais alto.
“Já trabalhei em outros órgãos antes da Embrapa, já fui professora da Universidade do Curso de Agronomia, já trabalhei na Secretaria de Agricultura e acabei fazendo o concurso da Embrapa para pesquisador, e com isso acabei optando para assumir esse cargo e desenvolver minha profissão na área de pesquisa. O que tem me deixado muito feliz, muito satisfeita, muito orgulhosa do trabalho que tenho desenvolvido nesses últimos 13 anos como pesquisadora da Embrapa”, conta Hyana com orgulho de sua trajetória.
Como é ser uma chefe mulher?
Para ela, assumir o cargo de chefe-geral da Embrapa Roraima foi um marco não apenas em sua carreira, mas também para o setor agropecuário, como um todo. Ela é a primeira mulher a ocupar essa posição, o que é um grande simbolismo em uma área predominantemente masculina.
“Eu ser a primeira chefe mulher, chefe-geral mulher dessa unidade é muito desafiador. Porque é uma empresa do agro, onde o histórico é de gestões masculinas, mas isso não quer dizer que a gente como mulher também não possa liderar. Então ser gestora, é desafiador. Mas eu acho que isso também nos motiva a fazer diferente. Acho que a mulher tem o olhar diferenciado”, afirma.
Iana segue sua missão de liderar e expandir a pesquisa agropecuária no estado, sempre com um olhar atento para as necessidades locais e o desenvolvimento sustentável da região.
Papel da Embrapa
A Embrapa, uma das principais instituições de pesquisa agropecuária do Brasil, desempenha um papel essencial no desenvolvimento do setor agrícola nacional, especialmente no que diz respeito à inovação tecnológica e à adaptação de soluções para a realidade dos produtores rurais.
A instituição, que já tem décadas de história, é responsável por transformar a ciência e a pesquisa em ferramentas práticas e eficazes para os agricultores, com foco no aumento da produtividade e sustentabilidade.
“O papel da Embrapa é pesquisar problemas que os produtores estão tendo, a gente precisa encontrar soluções e dali desenvolver soluções tecnológicas para levar para o campo”, destaca.
A transferência de tecnologia, um dos principais objetivos da Embrapa, vai além do desenvolvimento de novos produtos e práticas. Envolve, também, a capacitação de diferentes agentes do setor agrícola para multiplicar o conhecimento.
“Nesse momento, que é o resultado da pesquisa, a gente capacita os agentes multiplicadores, que são os técnicos, os produtores líderes, líderes de comunidades indígenas. Então a gente capacita sim. A gente capacita através de eventos que a gente chama dia de campo.”
Esses eventos proporcionam uma interação direta entre os pesquisadores da Embrapa e os produtores, o que permite não só a troca de conhecimento, mas também a adaptação das soluções para as particularidades de cada região.

Maior desafio
Hyana conta que assumir uma posição de liderança em uma instituição renomada como a Embrapa Roraima é, sem dúvida, um grande desafio, especialmente quando essa trajetória acontece de forma rápida e inesperada.
“Bom, primeiro foi assumir esse papel. Realmente eu não esperava que fosse tão rápido,” revela Hyana, refletindo sobre a velocidade com que sua ascensão ao cargo aconteceu.
“Tem até colegas que falaram: ‘Nossa, foi tipo uma progressão cometa, né?’ E eu parei para pensar assim, o cometa, né? Foi muito rápido.” Para ela, a rapidez com que sua promoção ocorreu foi um fator surpreendente, mas ao mesmo tempo, um reflexo do trabalho contínuo e da dedicação que sempre colocou em sua carreira.
A chefe-geral da Embrapa Roraima acredita que o sucesso não vem por acaso, mas sim como resultado de anos de trabalho e comprometimento com o que faz. “Eu acho que tudo isso é fruto do seu trabalho. Quando você trabalha, quando você gosta do que faz, você acaba chamando a atenção, mostrando a sua capacidade,” afirma.
“Eu acho que tudo é muito no tempo certo. Então, apesar de ter sido antes do que eu esperava, acho que cada momento tem suas coisas já predestinadas, e eu estou aceitando.”
Além disso, ser uma mulher em uma posição de liderança trouxe desafios adicionais, como a necessidade de equilibrar suas múltiplas responsabilidades. “Ser gestora, mulher, mãe, filha, cuidar. São muitas atribuições para as mulheres. Então eu preciso organizar minha casa, minha rede de apoio, e também a empresa, para que eu tenha equilíbrio em tudo isso,” explica Hyana, evidenciando a carga de trabalho e as expectativas sociais que recaem sobre as mulheres.
Inspiração
O caminho que leva uma pessoa a escolher sua carreira nem sempre é claro desde o início, mas para Hyana, uma inspiração inesperada surgiu quando ela tinha apenas 15 anos. Uma simples reportagem em uma revista mudou a sua trajetória e despertou nela uma paixão pela pesquisa agropecuária que, anos mais tarde, a levaria a ocupar uma posição de liderança em uma das instituições mais importantes do Brasil.
“Eu tinha 15 anos, estava no primeiro ano do ensino médio, e li uma reportagem na revista Globo Rural sobre uma pesquisadora da Embrapa chamada Johanna Döbereiner. Ela havia descoberto um microrganismo que fixava biológico de nitrogênio. Esse microrganismo ajudava a soja a absorver nitrogênio do solo, o que reduzia o custo de produção e fez o Brasil se tornar um grande produtor de soja.”
Para Hyana, essa descoberta não foi apenas científica, mas também uma revelação sobre o impacto que a ciência poderia ter na vida das pessoas e na economia do país. “Eu fiquei assim, impressionada! Uma mulher descobriu um microrganismo que fez um impacto no PIB do Brasil e ajudou o Brasil a se destacar como produtor agrícola. Eu pensei: ‘Gente, que coisa maravilhosa!’”
Esse foi o momento que despertou em Hyana o desejo de trabalhar com pesquisa, mas também de seguir os passos de mulheres como Johanna Döbereiner, que se destacaram em um campo predominantemente masculino.
O entusiasmo de Hyana foi tanto que ela decidiu criar um grupo na escola para participar de uma feira de ciências.
“Eu montei um grupo com os colegas e convenci a professora a levar a gente até a Embrapa. Lá, conhecemos pesquisadores e fizemos um trabalho testando o microrganismo que havia sido tema da reportagem. Nosso trabalho ganhou o primeiro lugar na feira”, disse.
Esse sucesso na feira de ciências foi apenas o começo de sua jornada na pesquisa agropecuária. “Quando eu tinha 15 anos, eu li aquela reportagem e pensei: ‘Eu quero trabalhar com isso!’”
A partir daquele momento, Hyana sabia que a pesquisa agropecuária seria o seu caminho. O destino parecia ainda mais fascinante e, ao longo dos anos, ela seguiu sua paixão, chegando à Embrapa e se tornando uma referência na área.
Recentemente, ela teve uma experiência emocionante ao passar por uma exposição no Congresso Nacional.
“Ano passado, eu estava no Congresso Nacional, e, ao passar por um corredor, vi uma exposição com o nome de Johanna Döbereiner. Ela já havia falecido, mas estavam exibindo a reportagem que eu li quando tinha 15 anos, a mesma reportagem que mudou minha vida. Fiquei arrepiada e tirei até uma foto. Eu não acreditei que aquela reportagem estava ali, numa exposição, mostrando a história de uma mulher que me inspirou tanto”, conta com entusiasmo.
A emoção de Hyana foi visível ao relembrar o momento em que se deparou com a exposição, uma história que veio de um simples gesto de curiosidade e se transformou em uma grande fonte de motivação ao longo de sua vida. “A reportagem que mudou minha vida estava lá, na exposição da Johanna Döbereiner. Foi um momento muito especial. Eu sempre digo que, às vezes, as coisas que a gente lê ou vê em um momento da vida podem mudar completamente o nosso caminho. E foi isso que aconteceu comigo.”
Agora, Hyana é chefe-geral em uma instituição que impacta diretamente o setor agrícola brasileiro, e ela carrega consigo a memória de uma mulher que, com sua pesquisa, transformou a agricultura no Brasil.
“Eu me sinto muito honrada por hoje ocupar um cargo de liderança na Embrapa, e sempre lembrando daquelas mulheres que, com suas descobertas, me inspiraram a chegar onde estou”, destacou.
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Por: M3 Realidades