
O Centro de Referência em Saúde Indígena (CRSI Xapori Yanomami), localizado em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami, atenderá cerca de 60 comunidades e beneficiará aproximadamente 10 mil indígenas. Foto: Divulgação
Última modificação em 9 de setembro de 2025 às 10:17
Começou a funcionar neste fim de semana, na Terra Indígena Yanomami (RR), o Centro de Referência em Saúde Indígena Xapori Yanomami, o primeiro hospital de saúde indígena do Brasil. A unidade é voltada exclusivamente ao atendimento da população indígena e marca um passo histórico na garantia de assistência digna aos povos originários.
Construído após o decreto de emergência em saúde pública na região, em 2023, o hospital vai atender cerca de 10 mil indígenas de aproximadamente 60 comunidades yanomami. A Terra Yanomami, maior território indígena do país, abrange quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, com uma população estimada de 32 mil indígenas.
Estrutura e serviços do hospital
Com investimento de R$ 29 milhões, o hospital foi construído por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Central Única das Favelas (CUFA) e a organização Target Ruediger Nehberg Brasil.
A unidade conta com 1.300 m² de área construída, distribuída em três blocos principais:
- Bloco assistencial (801 m²): onde são realizados atendimentos médicos, exames e tratamentos;
- Bloco de alojamento (387 m²): destinado à equipe de saúde;
- Bloco de alimentação (122 m²): com cozinha e refeitório.
Entre os serviços oferecidos estão consultas médicas, exames, atendimentos de urgência e emergência, tratamento de malária e desnutrição, principais problemas de saúde enfrentados pelos Yanomami.
A estrutura dispõe de:
- 120 suportes com leitos-rede, respeitando os hábitos culturais indígenas;
- Leito de isolamento, alas feminina e masculina, farmácia;
- Sala de estabilização com recursos para cuidados intensivos (sem UTI), garantindo suporte até possível transferência para hospitais em Boa Vista (RR);
- Equipamentos como raio-X, ultrassonografia e eletrocardiograma.
Equipe multiprofissional
O hospital é mantido com uma equipe de 164 profissionais, atuando em sistema de revezamento e divididos entre as áreas de saúde, infraestrutura, logística e saneamento. Os profissionais incluem:
- 5 médicos clínicos permanentes
- 3 médicos especialistas (conforme demanda)
- 2 cirurgiões-dentistas
- 6 enfermeiros e 12 técnicos de enfermagem
- 3 socorristas
- 5 agentes de combate a endemias
- 2 nutricionistas e 4 auxiliares de cozinha
- Técnico de laboratório, supervisor de campo e equipe de apoio
Visita do Ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, esteve no local para uma visita técnica, acompanhando os primeiros atendimentos prestados na unidade. Ele foi recebido por lideranças indígenas como o xamã Davi Kopenawa e Júnior Hekurari, presidente da Urihi Associação Yanomami, que liderou as denúncias de desassistência sanitária nos últimos anos.
“É uma unidade que, além de cuidar melhor da população indígena, também nos permite investir melhor os recursos da saúde. Teremos uma equipe multiprofissional mantida de forma permanente pelo Ministério da Saúde”, afirmou Padilha.

Contexto: emergência em saúde e retomada da dignidade
A construção da unidade ocorre em meio a um cenário crítico. A região foi oficialmente colocada em emergência de saúde em janeiro de 2023, após décadas de abandono e os impactos devastadores do garimpo ilegal, que compromete a floresta, contamina os rios e ameaça a vida dos indígenas.
Antes da abertura do hospital, os atendimentos ocorriam de forma precária, em barracões de madeira ou alojamentos improvisados. Para o presidente da CUFA, Preto Zezé, a nova unidade representa mais do que saúde:
“É uma resposta à situação sub-humana que vimos aqui. Essa estrutura é um passo em direção à justiça para os povos originários do Brasil.”
Fonte: G1
Por: M3 Comunicação