
Estudante reconhece o comportamento mas cita diagnóstico de autismo e problemas psiquiátricos em nota. Foto: Divulgação
Após a repercussão das publicações do estudante Fábio Felipe dos Santos Nogueira, de 24 anos, que mostram atitudes racistas e homofóbicas, ele se pronunciou. O aluno de medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR) foi afastado do curso e está sendo investigado pela instituição. Ele também deletou as redes sociais.
As publicações foram feitas na rede social X (antigo twitter), onde Fábio se identificava com nome masculino, mas utilizava uma foto de perfil feminina. Dentre as postagens na rede social o usuário ofende grupos minoritários, de mulheres, à negros e pessoas LGBTQIAPN+.


Após a repercussão do material e da decisão da Universidade de afastar o estudante, ele se pronunciou por meio de nota:
Estou ciente da repercussão causada por declarações que fiz nas redes sociais e reconheço que foram inadequadas. No momento, estou refletindo com seriedade sobre o ocorrido e preparando minha retratação formal à coordenação da universidade.
Quero deixar claro que apoio os valores de respeito, inclusão e responsabilidade — justamente os princípios que falhei em demonstrar na forma como me expressei online. Muitas das minhas publicações foram feitas por meio de uma persona exagerada, como forma impulsiva e equivocada de extravasar raiva e frustração.
Essa raiva, reconheço hoje, tem raízes mais profundas, ligadas a conflitos internos mal elaborados, inclusive com minha vivência religiosa e com questões pessoais relacionadas à minha própria sexualidade, que por muito tempo reprimi ou não compreendi com clareza. Nada disso justifica o que foi dito, mas me ajuda a entender por que permiti que uma persona distorcida assumisse o lugar da empatia e do bom senso.
Ressalto que nunca ataquei ou feri a honra de ninguém do meu convívio ao longo destes anos, e sempre mantive uma postura respeitosa com colegas, professores e demais membros da comunidade acadêmica.
Tenho diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e estou em tratamento psiquiátrico contínuo, o que tem sido essencial para lidar melhor com minhas emoções, impulsos e formas de expressão. Não trago isso como justificativa, mas como parte do esforço que venho fazendo para crescer, amadurecer e agir com mais responsabilidade daqui em diante.
Não pretendo conceder entrevistas neste momento, pois meu foco está em me responsabilizar pelas consequências e agir com respeito às pessoas envolvidas e à instituição da qual faço parte.
Apesar de se dizer arrependido, a associação do comportamento criminoso à condição de autista causou revolta e indignação em grupos de autistas de Boa Vista. O Grupo de Autistas Adultos publicou uma nota de repúdio afirmando que “ser autista não justifica discurso de ódio nem exime ninguém de responsabilidade. Autismo não causa preconceito”, diz a nota. O grupo ainda aponta que o diagnóstico está sendo usado por Fábio como um “escudo para discriminação”.
O que diz a Universidade Federal?
A Universidade Federal de Roraima também emitiu nota sobre a situação e afirma que a instituição adotou as providências cabíveis, conforme previsto no Estatuto e Regimento da Universidade.
A UFRR destacou também a resolução da instituição que estabelece normas e procedimentos a serem adotados em casos de assédio moral, assédio sexual, violência étnico-racial, de gênero e de sexualidade, além de outras formas de preconceito e discriminação no âmbito da Universidade.
“A UFRR destaca que o processo segue em trâmite no âmbito da unidade acadêmica vinculada ao discente, assegurando também ao estudante o pleno direito à ampla defesa e ao contraditório, conforme preceitos legais e normativos vigentes”, disse.
Por: M3 Comunicação