
Roraima possui potencial produtivo para expandir a cajucultura. Foto: Claudio Norões / Embrapa
Última modificação em 16 de maio de 2025 às 11:19
O caju é um fruto típico do Brasil e sua produção no país se concentra principalmente na região nordeste, contudo, Roraima também possui produtores do fruto. E com foco nesses produtores, um grupo de pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical veio a Roraima para um dia de campo em uma área de produção de caju.
O Papo M3 Realidades conversou com os pesquisadores sobre os potenciais do Estado para produção de caju e a participação da Embrapa no auxílio a esses produtores. Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, conta que já conhecia Roraima. Foi durante uma viagem a passeio que o pesquisador percebeu o potencial do estado para o cultivo de caju.
“Quando a gente chegou aqui, nos surpreendemos porque vimos muitos cajueiros ao longo da estrada subindo da imbricação até Tepequém, a gente viu muito caju”, relembra detalhes da viagem que fez anos atrás, durante a pandemia, em um dos períodos de baixa transmissão do vírus. A partir dessa visita, a conversa entre os pesquisadores se intensificou.
A ideia inicial, segundo Gustavo, era iniciar um polo produtor de caju em Roraima com foco na exportação de castanha para o Caribe, via porto de Georgetown, capital da Guiana Inglesa. O debate começou em 2020 e se consolidou com o primeiro projeto experimental de mudas em 2022. Mais de seis mil mudas de material genético de boa qualidade estavam em desenvolvimento num viveiro experimental em Normandia, mas o experimento não deu certo e as mudas foram descartadas.
Ainda assim, os pesquisadores não desistiram e continuaram as pesquisas. Agora, três anos após essa experiência, o grupo retorna a Roraima para conversar com produtores e orientar aqueles que pretendem investir na cajucultura. Gustavo aponta que esse não é o primeiro dia de campo que a Embrapa realiza com foco na produção de caju, mas essa é a primeira vez em Bonfim.
🔬Tecnologia associada à produção
O principal foco da visita de pesquisadores da Embrapa ao Estado de Roraima é mostrar modelos mais rentáveis e trazer mudas com potencial altamente produtivo. Segundo Gustavo, os materiais genéticos utilizados pela Embrapa no plantio do caju possuem baixo custo de desenvolvimento e alta rentabilidade de produção, podendo gerar em poucas décadas mais de R$ 100 milhões. “São produtos de alta tecnologia, que podem produzir realmente grandes dados e em grandes volumes por hectare”, aponta.

Mas para garantir que o experimento vai ter sucesso, é necessário que os produtores saibam tirar o melhor proveito dessa tecnologia. Por isso, foram selecionados dois produtores locais com grande potencial para que a Embrapa aplique melhorias voltadas à cajucultura. “A equipe de Roraima fez toda uma escolha de produtores que não estão usando o apogeu da tecnologia, mas que já mostram que aquelas áreas de caju não tem nada a ver com as áreas extrativistas indígenas”, explica o chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical.
Com acompanhamento de especialistas e tecnologias aplicadas ao desenvolvimento da planta, os pesquisadores apontam que cada planta pode produzir de 4kg a 20kg de castanha de caju. “Você tem que construir a árvore como a gente constrói dentro de um processo de ensino-aprendizagem no ser humano”, aponta.
O fitopatologista Marlon Valentim é especialista no estudo de doenças ou problemas que impeçam essa árvore de se desenvolver. Ao longo do dia de campo ele vai ministrar uma oficina sobre doenças normalmente associadas ao cajueiro-anão, espécie utilizada em plantios de caju no Brasil. Além do controle de pragas, ele aponta que é necessário cuidar da planta. “Não é só plantar e deixar no campo, precisa ter manejo”, afirma.
🌱 Produção de caju em Roraima
Atualmente, a produção de caju em Roraima é limitada e realizada principalmente por comunidades indígenas de forma artesanal. O aproveitamento comercial do caju no estado é restrito, com destaque para a produção artesanal de castanha pelas comunidades indígenas que normalmente comercializam o produto.

Com condições climáticas favoráveis e apoio técnico, Roraima tem potencial para expandir sua produção de caju, tanto para o mercado interno quanto para exportação. A introdução de variedades de cajueiro anão precoce e a capacitação dos produtores são passos importantes para o desenvolvimento sustentável da cajucultura no estado.
Como a produção ainda é pequena, os pesquisadores veem também uma oportunidade de aprender mais sobre o desenvolvimento do caju em regiões diferentes do nordeste. “Tem uma doença que ocorre no Ceará, que a gente chama de antracnose, que é causada por fungos. Então, eu imagino que aqui na região, ela pode ser um problema muito mais grave do que lá no Ceará. Por isso, eu também quero escutar as pessoas. A gente aprende muito com o produtor”, comenta o fitopatologista Marlon Valentim.
🌳 Brasil luta por melhorias no ranking mundial
O principal foco econômico da produção de caju no Brasil é a castanha, que tem grande valor agregado no mercado interno e externo. O Brasil produz em torno de 120 a 150 mil toneladas de castanha de caju por ano, dependendo das condições climáticas e da safra.
São mais de 500 mil hectares dedicados ao cajueiro, concentrados principalmente nos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, e em menor escala no Maranhão e Bahia. Em Roraima o polo produtor de caju se concentra nos municípios de Normandia e Bonfim e possui aproximadamente 50 hectares dedicados à plantação.

O principal entrave, segundo os pesquisadores, para expandir a produção a nível federal é a falta de políticas públicas de incentivo a essa produção. “O Brasil para sair desse ‘atraso’ em relação aos outros países precisa de política pública, porque tecnologia nós temos”, aponta Marlon Valentim.
Gustavo vai além do incentivo à produção e comenta que é necessário uma política pública industrial. “Porque se a gente tem uma política industrial, o produtor tem para quem vender”, aponta o chefe-geral comentando que o que foi feito até agora se concentrou principalmente na distribuição de mudas. Mas ainda falta instrução para que os produtores melhorem a capacidade de geração de frutos das plantas.
Embora o Brasil tenha sido pioneiro no cultivo comercial e no melhoramento genético do cajueiro, o país perdeu o primeiro lugar na cajucultura e ocupa hoje a 10ª posição no ranking mundial, segundo o World Population Review. O país fica atrás da Índia, Nigéria, Camboja e da Costa do Marfim, que ocupa a primeira posição na produção de castanha de caju com mais de um milhão de toneladas em 2023.
Mesmo assim, o Brasil possui a melhor tecnologia no que se refere a produção de caju. Por isso, os pesquisadores veem esperança na aplicação dessa cultura em outras regiões do país, como Roraima. “O caju tem um potencial para ser um motor de desenvolvimento econômico da região porque é uma árvore que tem uma plasticidade adaptativa muito boa. Ela se adapta a regiões como essa que tem um grande volume de água e também ao semiárido”, explica Gustavo Saavedra.
Por: M3 Comunicação