
BR-174: única rodovia que liga Roraima ao restante do Brasil. Foto: Reprodução
Última modificação em 24 de abril de 2025 às 15:12
As pavimentações e constantes melhorias da BR-174, que liga Boa Vista (RR) a Manaus (AM), não representam apenas um avanço na infraestrutura da região Norte, mas simbolizam também a trajetória de superação de empresas locais como a Amatur Turismo. Fundada em Roraima há quase 35 anos, a empresa se consolidou no transporte rodoviário enfrentando desafios extremos e hoje celebra o crescimento como uma potência regional.
A história da Amatur começou com um único ônibus na rota entre Boa Vista e Santa Elena, na Venezuela, aproveitando a valorização do real após o Plano Real. Remídio Monai, empresário e fundador da empresa, relembra os primeiros passos.
Com 13 anos de experiência prévia em transporte de passageiros, Monai viu ali uma oportunidade não só de negócio, mas de quebrar um monopólio que existia no setor dentro de Roraima:
“Era uma luta desigual. A gente era pequeno, a outra empresa era grande, com influência política. Mas furamos a bolha”, disse.

BR-174: de estrada de chão a via estratégica
A entrada da Amatur na rota Boa Vista-Manaus em 1998 marcou um ponto de virada. Na época, a BR-174 era em grande parte estrada de chão e a viagem, uma verdadeira maratona, como relembra o empresário.
“As viagens duravam 24 horas. A estrada tinha partes asfaltadas, mas ainda tinha muito atoleiro e ponte de madeira. A gente foi se adaptando e resistindo onde outros não resistiam”, explica.
Em 2012, a empresa conseguiu uma liminar que a autorizou a operar como linha regular. Desde então, os investimentos em infraestrutura e frota só cresceram.
Hoje, a Amatur não só faz a linha Boa Vista-Manaus, como expandiu para rotas em Rondônia, Amazonas, e até no transporte interestadual e internacional, com previsão de iniciar a linha até a Guiana.
“A gente está operando com ônibus leito, com lanche, cobertor, ônibus zero. Isso até em estrada de chão. Nosso padrão é manter a qualidade em todas as rotas”, destaca o empresário.
A empresa mantém garagens estruturadas em Boa Vista, Manaus e Porto Velho, com investimentos contínuos. A de Manaus, por exemplo, está recebendo aporte de quase R$ 5 milhões.
Com cerca de 70 veículos e uma das frotas mais novas da região amazônica, a Amatur se vê como parte ativa no desenvolvimento da região:
“A gente acredita na Amazônia. Acredita que ela vai crescer e a gente quer crescer junto. A estrada melhorando, o transporte melhora, e isso movimenta a economia, aproxima as pessoas e fortalece nossa presença.”
A BR-174, que já foi sinônimo de isolamento e desafios logísticos, hoje é testemunha de uma história de perseverança empresarial. Apesar de reconhecer avanços na condição da BR-174, Monai alerta para a fragilidade da infraestrutura atual.
“A estrada Manaus–Boa Vista vem melhorando. Até elogiei o Igor, do DNIT, há uns 45 dias, porque o lado do Amazonas ficou perfeito. Mas sábado passado eu vim de lá e já vi muitos buracos novamente. É como remendar uma camisa velha: você tapa um buraco, e daqui a pouco arrebenta do lado”, disse Monai.
A estrada, construída há mais de duas décadas, não foi projetada para o volume e o peso do tráfego atual. Sem uma reforma estrutural, o ciclo de manutenção sazonal permanece.
“Arruma no verão, esculhamba no inverno. Parece estrada de chão. Se não for restaurada de forma completa, vamos continuar nesse ciclo.”
Impacto direto no transporte de passageiros
A melhoria, mesmo que parcial, já representa economia para o setor. Segundo Monai, o trecho Boa Vista–Manaus é operado atualmente com veículos de alto padrão:
“Hoje, temos os melhores ônibus do país rodando nessa rota. São ônibus leito, zero quilômetro, com cobertor e lanche. Isso só é possível com uma estrada minimamente viável”, explica.
A condição da estrada afeta diretamente o custo operacional. Reduz manutenção, o consumo de combustível, e melhora o bem-estar dos funcionários. “Uma estrada ruim é estressante, causa tensão constante nos motoristas.”
Com a melhora na rodovia e o aumento da concorrência no setor, os preços das passagens também caíram.
“Antes da pandemia, a passagem era R$ 320. Hoje, estamos vendendo por R$ 200 em promoção. O movimento aumentou, conseguimos baixar os custos e repassar isso para o cliente.”

A importância logística da BR-174 para Roraima
Além do transporte de passageiros, a BR-174 é essencial para a logística do estado. Por ela chegam alimentos, combustíveis e diversos insumos.
“Ela é o principal elo logístico de Roraima com o restante do Brasil. Toda a mercadoria entra por ela. Melhorar a BR é reduzir o chamado ‘custo Roraima’, que sempre foi alto justamente pela distância e dificuldade logística.”
Remídio também destaca a importância da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e que vem sendo trafegada mesmo durante o período chuvoso.
“Estamos no segundo inverno seguido operando a BR-319 sem interrupção. Antes, a gente ficava seis meses parado. Hoje, mesmo com estrada ruim, não forma grandes atoleiros, e as carretas estão rodando.”
A duplicação da BR-364, que liga Porto Velho a Cuiabá, é outra aposta para baratear o transporte até o Norte do país. A BR-364 é o caminho que liga o Norte ao Centro-Sul. E agora, com a rota transoceânica indo até o Peru, via Porto Velho, temos mais uma alternativa logística de exportação.
Da fronteira com a Venezuela ao litoral do Caribe: a rota da integração
Com quase 35 anos de operação, a Amatur já liga diversas cidades da Amazônia Legal por via terrestre, incluindo rotas para a Venezuela, o interior do Amazonas, Rondônia e Acre. Agora, a meta é ampliar esse alcance até a Guiana, integrando ainda mais a região:
“A gente espera muito dessa linha para Georgetown. Vamos ligar Pacaraima à Guajará-Mirim, ao Acre, e também à Venezuela. Muitos venezuelanos estão voltando agora para visitar familiares, e essa rota está se movimentando bastante com esse público”, destacou Monai.
Segundo ele, essa ligação terrestre facilitará também o trânsito de passageiros em direção ao Peru e à Argentina, passando pelo Acre.
“Agora que os venezuelanos se estruturaram no Brasil, estão voltando para rever a família. E essa rota entre Pacaraima e Rio Branco está sendo muito utilizada. A gente está crescendo com esse fluxo.”
Além disso, Monai projeta crescimento na operação urbana e corporativa em Manaus, principalmente com o transporte de trabalhadores no distrito industrial da capital amazonense.
“Já temos estrutura em Manaus, e nosso foco agora é firmar ainda mais presença no transporte de funcionários do polo industrial.”
Setor de transportes em Roraima: visão de futuro e oportunidades
Para Monai, o futuro do setor de transportes em Roraima é promissor, especialmente se aproveitado em conjunto com o crescimento dos países vizinhos e os investimentos em infraestrutura regional.
“Roraima tem uma posição privilegiada. Temos ligação com a Venezuela, e mais dia menos dia, eles vão resolver aquela bronca por lá. A gente torce por isso. E com a Guiana crescendo do jeito que está, com o petróleo fortalecendo a moeda deles, será muito mais fácil para os guianenses investirem aqui”, disse.
Ele também aposta no crescimento do turismo com a possível conclusão do asfaltamento da estrada até Georgetown, capital da Guiana.
“Daqui a pouco você sai de Boa Vista à noite e amanhece em Georgetown. E de lá pode seguir para o Suriname, para a Guiana Francesa, Caiena. Temos que estar preparados para receber esse turismo caribenho.”
Com esses avanços, Remídio Monai acredita que o setor de transportes em Roraima deixará de ser visto como um gargalo logístico para se tornar um elo estratégico de integração regional:
“Acredito que a gente vai poder chegar ao Suriname ainda com ônibus da Amatur. Esse é nosso sonho: sair daqui e cruzar a Amazônia, ligando países, culturas e oportunidades”, finaliza.
Por: M3 Comunicação