
Última modificação em 20 de março de 2025 às 14:45
No mês de março, dedicado às mulheres que transformam suas realidades, o Papo M3 Realidades apresenta histórias inspiradoras de mulheres de Roraima.
Entre elas, está Rafaela André, a primeira coordenadora estadual de Igualdade Racial do estado. Mulher preta, quilombola e jornalista, Rafaela trilhou um caminho de desafios e conquistas para abrir espaços e ampliar a representatividade racial no estado.
Uma trajetória de reconhecimento e resistência

Natural de Petrópolis, Rio de Janeiro, Rafaela encontrou em Roraima um lugar para crescer pessoal e profissionalmente. Sua trajetória no ativismo começou quando percebeu que o racismo e o preconceito que enfrentava ao longo da vida precisavam ser combatidos de forma mais estruturada.
Foi no curso de Jornalismo que ela entendeu seu propósito: usar sua voz e sua imagem para abrir caminhos para outras mulheres negras.
Ao longo de sua carreira, Rafaela se destacou como comunicadora e influenciadora da pauta racial. Trabalhando na TV, percebeu o impacto de sua representatividade quando mães de crianças negras diziam que suas filhas passaram a se enxergar como bonitas ao vê-la na tela. E com isso, ela se tornou Miss Beleza Negra de Roraima e agora carrega o título de Miss Amajari, utilizando os concursos como uma ferramenta para questionar e quebrar padrões eurocêntricos.
“Eu me lembro da Rafaela criança, que não via representatividade na televisão. Cresci com a autoestima baixa, tentando me encaixar em padrões que não eram meus. Hoje, quero ser essa referência para outras meninas”, afirma.
O desafio da Igualdade Racial em Roraima
O trabalho de Rafaela como coordenadora de Igualdade Racial não foi fácil. Ao assumir o cargo, a estrutura para tratar da pauta racial simplesmente não existia. “Eu tive que criar a coordenação do zero e, além disso, implantar o Conselho Estadual da Igualdade Racial, que a sociedade civil tentava estabelecer há 20 anos”, relembra.
Durante sua gestão, o estado de Roraima conseguiu avançar na inclusão da igualdade racial no orçamento estadual e aderir ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir).
Para este ano, um dos maiores projetos é o lançamento do Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial, que formalizará diretrizes e ações para garantir políticas públicas efetivas na área.
“Cada avanço é uma vitória, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. É como dar 10 passos à frente sabendo que ainda faltam mil para recuperar o que ficou para trás”, reflete.
Racismo, desafios e conquistas
Rafaela sente na pele o peso de ser uma mulher negra em um cargo de destaque. “Minha cor chega primeiro, meu gênero chega primeiro. Mesmo com todas as minhas conquistas, ainda há quem duvide da minha capacidade apenas por ser uma mulher preta”.
O preconceito, muitas vezes velado, esteve presente em sua trajetória desde a infância. Ela relembra um episódio marcante, quando um professor pediu que os alunos descrevessem um escravizado e colegas disseram que bastava olhar para ela.
“Isso minou minha autoestima por muito tempo, até que entendi que precisava me orgulhar das minhas origens”, conta.

Hoje, sua missão é fortalecer outras mulheres negras para que se sintam representadas e encorajadas a ocupar espaços de poder.
Uma mensagem para as mulheres
Formada em Jornalismo e acadêmica de Gestão Pública, Rafaela não pretende parar por aqui. Seu próximo passo é ingressar no mestrado na área de minorias étnico-raciais e seguir transformando a realidade de Roraima.
Para outras mulheres que sonham em conquistar seu espaço, ela deixa uma mensagem poderosa:
“Não desistam. Já tive muitas oportunidades de desistir e não desisti, porque quando uma de nós vence, todas nós vencemos. Como diz Angela Davis, quando a mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela.”

Rafaela André é a prova de que representatividade importa e que a luta por igualdade racial é, acima de tudo, um compromisso diário com a construção de um futuro mais justo para todas as mulheres.
Por: Papo M3 Realidades