Última modificação em 9 de março de 2025 às 10:10

Por trás da farda e da postura firme que a sociedade muitas vezes associa à figura de uma policial militar, existe uma mulher de coração gigante, que se emociona ao falar sobre acolhimento, empatia e a força de outras mulheres.
Tamara Torres é policial militar, advogada, palestrante e idealizadora do projeto “Todos Por Elas”, uma rede de apoio voltada para mulheres vítimas de violência doméstica e crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Ela contou sua trajetória e a missão que assumiu de transformar vidas por meio da informação, da prevenção e, principalmente, do acolhimento.
“Eu me envolvo até mais do que deveria. Eu sinto a dor do outro como se fosse minha”, revela.
Entre a advocacia e a polícia: o chamado para acolher
A carreira de Tamara começou na advocacia, atuando principalmente em casos de família. Sempre teve o dom de mediar conflitos e encontrar soluções sem que as pessoas precisassem recorrer à justiça. Mas foi ao ingressar na Polícia Militar que seu propósito ganhou uma nova dimensão.
Lotada na Coordenadoria de Policiamento Comunitário e Direitos Humanos, Tamara passou a ter contato direto com mulheres vítimas de violência doméstica e percebeu que muitas vezes, o que elas buscavam não era apenas uma policial, mas uma mulher capaz de ouvi-las sem julgamento.
“Eu sempre digo: meu lugar não é de julgar, é de acolher. Mesmo que ela decida voltar para o agressor, eu vou estar aqui”, conta Tamara, ressaltando que o processo de romper um ciclo de violência é doloroso e cheio de idas e vindas.
‘Todos Por Elas’: uma rede de acolhimento e transformação
Foi em uma madrugada, movida por esse propósito de acolher e orientar mulheres, que Tamara criou o projeto ‘Todos Por Elas’. Com uma rede de voluntários, o projeto oferece rodas de conversa, palestras, orientações jurídicas, atendimento psicológico e campanhas de arrecadação para mulheres em vulnerabilidade.
Profissionais como psicólogas, ginecologistas, nutricionistas e advogadas se uniram à causa, formando uma verdadeira rede de proteção.
“Eu não tenho mandato, eu não tenho poder, mas com poucos recursos, a gente transforma vidas. Isso é o que me move”, destaca Tamara.
A comunidade “Todos por Elas” se tornou também um canal de comunicação, funcionando como um espaço para o recebimento de denúncias, solicitações de acolhimento e a disseminação de informações. Além de dar visibilidade a casos de grande repercussão relacionados ao feminicídio, a plataforma também oferece dicas de segurança e atualizações sobre mudanças na legislação.
Prevenção e educação: o cuidado desde a infância
Um dos braços do projeto é voltado para a orientação de crianças e adolescentes, especialmente sobre abuso sexual. Em uma das palestras realizadas em uma escola, mais de 30 denúncias surgiram em uma única manhã. Crianças e adolescentes encontraram, pela primeira vez, um espaço seguro para falar sobre toques inadequados e situações de abuso.
“Essas crianças estavam sedentas por informação e acolhimento. Elas precisam ser ouvidas e orientadas, e esse é um trabalho que precisa ser fortalecido nas escolas”, explica.
Para Tamara, um dos maiores desafios no enfrentamento da violência doméstica é a falta de integração entre os serviços de acolhimento.

Histórias que marcam
Ao longo de quatro anos de projeto, Tamara se deparou com histórias de dor, resiliência e superação. Casos de mulheres que romperam o ciclo de violência após passarem pelo acolhimento do projeto e hoje retomaram suas vidas. Mas também há aquelas que voltaram para os agressores, em um processo doloroso.
“É muito difícil, mas mesmo quando elas voltam, eu não solto a mão delas. Digo: me dá só dois meses de terapia, sem contato com ele. Se depois disso você quiser voltar, eu respeito. Mas pelo menos se permita se enxergar sem ele”, conta.
Inspirações e legado
Quando questionada sobre suas inspirações, Tamara não cita figuras famosas ou líderes globais. Suas referências são as mulheres de sua própria família, sua avó, suas tias e sua mãe. Mulheres fortes, guerreiras, que criaram seus filhos com muito esforço e amor.
“A nossa força é de dentro para fora. Não é o meio em que estamos que define quem somos, mas o que sabemos sobre nós mesmas”, afirma.
Mensagem para as mulheres
Em celebração ao Dia das Mulheres, Tamara deixa um recado poderoso para todas que sonham em ocupar espaços e transformar realidades:
“Todas nós podemos ocupar qualquer lugar. Só precisamos acreditar em nossa força e nossa capacidade. Mulheres, quando unidas, são capazes de feitos extraordinários. E isso não é discurso vazio, é vivência.”

Inspiração! Merece todo o reconhecimento possível. Que Deus continue abençoando e protegendo-a pra que possa seguir com essa nobre e desafiadora missão.