Última modificação em 9 de março de 2025 às 11:54

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, a história da Coordenadora Estadual de Políticas Públicas para Mulheres de Roraima Graça Policarpo, reflete a resiliência de muitas mulheres brasileiras. Graça é mãe solo de três filhos, servidora pública e que transformou a trajetória pessoal em uma bandeira de luta coletiva pelas mulheres.
Formada em Sociologia, e com uma longa vivência em comunidades rurais e populações tradicionais, Graça se define como uma “semeadora”.
“Eu planto sementes todos os dias, independente se o solo é fértil ou pedregoso. Acredito na capacidade das pessoas, e principalmente das mulheres, de vencer suas dificuldades”, afirma.
Da igreja ao serviço público: o início de uma missão
A conexão de Graça com a comunidade começou na igreja, onde atuou como coordenadora por três anos. Ao organizar ações sociais para mães e crianças, ela entendeu que evangelizar ia além da oração, e era preciso acolher, oferecer apoio e ferramentas para uma vida digna.
Foi essa atuação comunitária que a aproximou do serviço público. O convite para trabalhar em uma secretaria veio de um político que admirava seu trabalho voluntário. Sem formação superior na época, mas com muita vontade de aprender e transformar realidades, Graça mergulhou nos projetos de agricultura familiar, cooperativismo e, principalmente, empoderamento econômico de mulheres rurais.
Mulheres protagonistas da própria história
Em seu trabalho, Graça percebeu que a autonomia econômica era uma peça-chave para que mulheres quebrassem ciclos de violência e dependência. “Eu mostrava para elas que podiam ser muito mais do que produtoras agrícolas podiam costurar, fazer artesanato, beleza, tudo o que consumimos, podemos produzir”, conta.
Essa defesa da autonomia feminina se consolidou em 2018. Ela foi convidada para atuar diretamente com políticas para mulheres no estado, e na coordenação, Graça se tornou uma referência de acolhimento e articulação de rede.
É ela quem está como Coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, em Roraima, que recebe mulheres em situação extrema, sem apoio familiar, sem recursos e muitas vezes ameaçadas de morte. E a instituição que também mobiliza parcerias, doa itens essenciais e garante que cada uma dessas mulheres receba não apenas assistência, mas a chance de reconstruir a própria vida.

Os desafios de ser mulher e gestora
O trabalho de Graça não é apenas técnico, é político e, muitas vezes, solitário.
“Quando você defende os direitos das mulheres, você está mexendo diretamente na estrutura patriarcal. A sociedade finge que valoriza a mulher independente, mas, quando nos emancipamos de verdade, incomodamos. Até outras mulheres, muitas vezes”, desabafa.
Além das barreiras culturais e sociais, há os desafios financeiros. “Ninguém faz política pública sem orçamento, e, infelizmente, as políticas para mulheres e outros grupos vulneráveis são tratadas como ações paliativas, e não estruturais”, explica.
Mulheres que inspiram
Questionada sobre quais mulheres a inspiram, Graça não hesita: as mães solo. “São elas que me inspiram, porque lutam todos os dias para vencer. E a sociedade insiste em dizer que mulher sozinha é mulher disponível, mulher que precisa de homem para ser completa”, afirma.
Conselho para as próximas gerações
Para as meninas e mulheres que sonham em ocupar cargos de liderança ou atuar na defesa dos direitos femininos, Graça é direta: “Estudem, contem suas histórias e lutem por igualdade de gênero. Porque os homens não farão isso por nós”.
“Nós, mulheres, precisamos nos unir, nos respeitar e nos ajudar. Porque, no fim das contas, só temos umas às outras”.
Por: Papo M3 Realidades