Última modificação em 7 de março de 2025 às 09:04

Foto: Odara Rufino
Na série especial de entrevistas com mulheres que fazem a diferença, o Papo M3 Realidades traz uma conversa inspiradora com a cantora, compositora e arte-educadora Euterpe, um dos grandes nomes femininos da música de Roraima.
Com uma trajetória marcada por resistência, valorização da cultura e uma voz potente que ecoa ancestralidade e modernidade, Euterpe se consolida como uma das principais referências femininas na música regional.
Raízes e primeiros acordes
Nascida em Boa Vista, filha de mãe maranhense e pai paraibano, Euterpe cresceu em meio a sons e poesias dentro de casa. Seu primeiro contato com a música veio do próprio pai, que embalava a casa com teclados e forró. Desde cedo, a musicalidade foi se instalando de forma intuitiva, construindo um caminho que se tornaria sua vida.
Ainda criança, Euterpe participou do coral Canarinhos da Amazônia, onde começou a desenvolver seu talento vocal. Mais tarde, aos 17 anos, sua carreira ganhou força nas noites de Manaus, onde fez parte de bandas de baile e explorou o universo da MPB em palcos e bares da capital do Amazonas.
O nome ‘Euterpe’, que é artístico, nasceu em 2009 e veio através de uma pesquisa, após a cantora ser questionada sobre o nome artístico que levava.
Euterpe, é uma musa da música na mitologia grega, mas também é um nome científico da palmeira do Açaí. Um nome que carrega a paixão da arte e o norte em sua raiz.

Foto: Odara Rufino
Uma carreira construída com identidade e persistência
Mesmo com o talento latente, lançar uma carreira musical em Roraima não foi fácil. No retorno a Boa Vista, já decidida a se consolidar como artista, Euterpe encarou o desafio de captar recursos e se firmar em um cenário musical ainda dominado por homens.
O reconhecimento veio com premiações importantes, como o Prêmio Pixinguinha, e a participação em festivais que celebravam a música nortista.
Seu primeiro álbum, Batida Brasileira, lançado em 2009, trouxe uma sonoridade plural, que mistura afro-brasilidade e elementos da MPB, sempre flertando com a riqueza cultural do Norte.
O disco abriu portas para uma discografia consistente, que inclui trabalhos autorais e homenagens a grandes compositores de Roraima.
A primeira vez que Euterpe subiu no palco como uma artista profissional foi em 2007, em um show em homenagem ao dia Internacional das Mulheres, que aconteceu no Sesc Mecejana.
“Foi o meu primeiro show com uma banda, com um repertório de MPB, que destacava a presença feminina, com músicas de algumas compositoras, e que é o que eu vou fazer agora, anos depois, no dia 8 de Março na cafeteria ATTA” contou.
Ser mulher na música de Roraima
Como uma das poucas mulheres a construir uma discografia sólida em Roraima, Euterpe reconhece os desafios de se afirmar como compositora e intérprete.
“O mercado ainda é majoritariamente masculino. As mulheres aparecem mais como cantoras, mas muito menos como compositoras”, reflete.
Ainda assim, ela trilhou seu caminho com coragem e autonomia, assumindo a produção e a gestão de sua própria carreira.
Com orgulho, Euterpe hoje percebe seu nome ecoando como referência para novas artistas da região. Mais do que uma voz potente, ela é um símbolo de resistência feminina em um mercado historicamente desigual.
Referências femininas e memória afetiva
Na música, Euterpe bebeu de fontes poderosas: Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Rita Lee e Marina Lima foram suas inspirações nacionais. No norte do país, artistas como Patrícia Bastos e Márcia Siqueira ajudaram a moldar seu olhar artístico. E em Roraima, as artistas Lurdes Ferreira, Chirlei Cantoria e Elianai Menezes.
E também o legado do movimento Roraimeira, criado na década de 80, que é uma herança cultural que ela faz questão de carregar e reinventar.
Seu mais recente trabalho, o EP ‘Euterpe Canta Roraimeira‘, é uma homenagem ao trio icônico formado por Neuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino, pilares da música regional.
“Selecionei quatro músicas que marcaram minha memória afetiva e que me ajudaram a construir essa identidade artística”, conta.

O Que Vem Por Aí
Para 2025, Euterpe prepara uma agenda cheia de novidades. No dia Internacional da Mulher, 8 de março, a cantora se apresenta na cafeteria ATTA. Um show que celebra o feminino na MPB, e busca empoderar a voz feminina na música. A apresentação acontece às 19h.
A cantora pretende também lançar um novo álbum autoral, e segue firme em seu papel de arte-educadora, formando e inspirando novas gerações nas salas de aula.
Conselho e inspiração para outras mulheres
Para Euterpe, o segredo para uma carreira sólida vai além do talento: é preciso estudar.
“Não é só dom. É estudo, ensaio, pesquisa. E também entender o mercado, saber como lançar sua música, como registrar suas composições e se comunicar diretamente com o público”, aconselha.
Ela acredita que a presença feminina na música de Roraima está crescendo, e torce para que mais mulheres se lancem como compositoras, expressando suas vozes e vivências. “Tem espaço pra todas, e cada uma com sua história e sua sonoridade”, reforça.
E para o dia internacional da mulher, Euterpe reforça “Se ame. Não esqueça do seu valor. Ocupe os espaços que são seus por direito, eleve sua voz e lembre-se sempre de que você tem muito valor.”
Por: Papo M3 Realidades