“Ivone Mixtape Vol.3”: álbum de rap impulsiona a cena em Roraima
Última modificação em 7 de fevereiro de 2025 às 17:33
Com 30 faixas e influências da cultura roraimese, o projeto idealizado por Aka Junin fortalece a cena do hip-hop em Roraima.
“Os menino ta na rua, tamo pelo Caimbé”. O álbum “Ivone Mixtape Vol.3” foi lançado nesta sexta-feira (7). Uma colaboração entre os artistas da cena Rap e do Hip-Hop roraimense, que existe desde 2020, e hoje, se tornou um projeto que manifesta as raízes roraimenses entre os jovens artistas locais.
O produtor Aka Junin, de 22 anos, em entrevista exclusiva ao ‘Papo M3 Realidades‘ contou que a ‘Ivone’ nasceu de uma forma inesperada. “Ivone Pinheiro”, no bairro Caimbé, é o nome da rua em que o estúdio do produtor fica, e os artistas que iam gravar, começaram a chamar o estúdio de “Ivone”.
“Os artistas começaram a se referir com “bora na Ivone” e ninguém tinha nomeado antes. Foi crescendo e foi todo mundo falando […] Ivone é onde o movimento do rap atual acontece, aqui na minha casa, no meu estúdio” disse.
A mixtape nasceu da vontade de Junin de juntar todos os artistas que gravavam no estúdio, e falar da vivência do grupo, de como eles enxergavam o mundo, e colocá-los para rimar com as produções e batidas dele. A primeira mixtape foi lançada com 7 músicas.
A mixtape “Ivone Vol.2” lançada em 2022, inicialmente era um projeto de duas etapas, mas devido um problema no computador de Junin, algumas músicas da segunda parte do álbum foram perdidas.
“Eu perdi 15 músicas da Ivone e mais trampo [sic] meu, trampo de cliente. Foi a pior fase da minha vida, mas mesmo mesmo assim, a gente continuou trabalhando e fazendo a Ivone Mixtape Vol. 3 por 3 anos, tanto é que ela tem 30 músicas por causa disso, porque eu perdi muita música” contou Junin.
No ano passado, com o edital da lei Paulo Gustavo, vários artistas do hip-hop tiveram projetos aprovados, e o produtor Aka Junin também foi aceito com o projeto da música “Macuxi Muita Lombra” sampleada na música “Eu sou Negão” do artista Gerônimo Santana, e que está presente como uma das faixas da Mixtape.
“Eu tive a missão de trazer esse hino de Boa Vista, de Roraima, esse hino da cultura, e trazer para uma parada mais moderna. Trazer para a cara do hip-hop, para nossa cara, para nossa juventude, e foi o projeto que mais deu certo” contou o produtor
Com batidas de reggae amazônico e os beats de Aka Junin, a música se torna uma espécie de manifesto dos “Meninos da Ivone”, que rimam sobre os bairros da cidade, as rezas da avó e incluem na letra até o ser da mitologia guarani Yguareté Aba, uma espécie de “homem-onça”.
Com o projeto aprovado, Junin investiu todo o dinheiro no estúdio e na carreira, impulsionando a cena do rap roraimense.
“A cada dia meu estúdio cresce mais e o rap cresce junto com ele. Isso que é o mais da hora, porque eu acho que 80% da cena do rap grava comigo aqui, eu que produzo. Se eu melhorar e se eu tiver mais qualidade, consecutivamente a cena todinha do rap tem mais qualidade”
Em 2025, a “Ivone Mixtape Vol.3”, com 30 músicas, foi um dos projetos mais importantes e satisfatório para o produtor. O lançamento aconteceu no Bar 174, no bairro Liberdade, e de acordo com Junin, foi algo marcado de ultima hora, mas recebeu um público muito grande.
“Eu consegui fazer uma audição de última hora e colou muita gente. Eu fiquei impressionado, o dono do bazinho lá ficou impressionado e eu não fazia ideia do tamanho que já estava ficando o fenômeno Ivone Mixtape […] Eu estou muito satisfeito com tudo, com a repercussão, com a qualidade do trampo, que foi o que mais elogiaram, a qualidade.
Como tudo começou?
Junin começou sua história com a música como quase todos os artistas, ouvindo. Sabotage, Racionais, Facção Central foram as bases do produtor. E em 2017 ele entrou no mundo da musica fazendo o primeiro beat, que tem guardado até hoje.
Com a produção, Junin começou em 2017 por hobbie, produzindo apenas para os amigos. Na pandemia, em 2020, utilizou o tempo da quarentena pra estudar sobre a música, sobre produção e se profissionalizar no assunto. Em 2023 o artista participou de um intercâmbio para aprender ainda mais.
“Em 2023 eu consegui fazer o intercâmbio com a rapaziada do rap aqui de Roraima, foi eu, MC Frank, Ricks e o DJ Sorvete. A gente foi fazer o intercâmbio lá em Brasília com o maior produtor de rap do Brasil, ele foi o maior produtor que o rap já teve aqui no Brasil, e eu tive essa oportunidade de passar 9 dias lá com ele no estúdio aprendendo muita coisa, trocando muita ideia com ele. Eu voltei com outros olhos, com outra visão sobre tudo”
A cena roraimense
Para o produtor, a cena do rap em Roraima vem crescendo desde 2023, tanto em produções de qualidade como notoriedade. Os “meninos da Ivone” estão conseguindo “fazer dinheiro” e viver da paixão que é a música. O que falta, para o gênero se tornar algo promissor, é apenas investimento.
“Aqui a gente não tem investimento de nada, todo mundo que é artista de rap trabalha 100% independente. CLT que trabalha, que pega o dinheiro do salário e investe na carreira e na sorte de tentar conseguir alguma coisa. Aqui é 100% assim. Não tem investimento de ninguém.
Pro futuro, Aka Junin deseja trazer os olhos do Brasil para a cena roraimense, que tem qualidade e potencial para ser uma das maiores do país.
“Eu só quero que a nossa arte daqui do Norte, o nosso rap, nossas músicas sejam reconhecidas nacionalmente. Eu quero que o Brasil saiba quem nós somos. A qualidade do que a gente faz, que muitas vezes é melhor e superior do que eles fazem lá. Eu quero tirar o foco do eixo, trazer para a gente aqui de cima. Como um cara que faz parte da cultura, eu quero isso”
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